Gil Vicente – o Mestre da Corte de D. Manuel e de D. João III

Dissertação de mestrado em História e Cultura Medievais.Gil Vicente foi o primeiro escritor português a ultrapassar os muros da nacionalidade. A sua obra, no panorama ibérico e europeu, constitui um legado excepcional — passados já quinhentos anos após representação da primeira peça — no contexto político e sociomental no primeiro quartel do século XVI. Esta dissertação de mestrado constituiu como corpus todas as peças de Gil Vicente que tivessem sido representadas com o intuito de celebrar um acontecimento cívico-político. Foi, portanto, equacionada a funcionalidade e o alcance dos autos produzidos ao serviço dos reis D. Manuel e D. João III, num tempo em que a centralização de poderes era grande e as festas desempenhavam um papel importante nessa sociedade, porque era um momento especial para o rei manifestar todo o seu poder e não se poder entender o espaço e a vida cortesã sem festa. O primeiro capítulo desta tese trata justamente as circunstâncias das entradas reais na cidade, no sentido de perceber a importância de um acontecimento que é efémero, mas cheio de simbolismo. No segundo capítulo são objecto de análise as despedidas das infantas do reino e os casamentos reais. Averiguou-se acerca dos consórcios reais entre as coroas europeias, sobretudo da intenção de estreitar laços entre as cortes. O terceiro capítulo é dedicado às peças que foram representadas com o fim de celebrar os nascimentos dos filhos de rei. Para o quarto capítulo foram seleccionadas as peças que se fundamentam num discurso encomiástico ou que foram arquitectadas entre o panegírico e o divertimento palaciano. O último capítulo sistematiza a produção vicentina produzida ao serviço dos reis D. Manuel e D. João III. Concluiu-se a partir das investigações já feitas que o período de produção dramatúrgica no período manuelino é mais colocada ao serviço do ideário régio; por seu lado, no período joanino, para além de uma viragem laicizante do dramaturgo de quinhentos, os autos caracterizam-se por denotar preocupações mais recreativas.Gil Vicente was the first known Portuguese writer beyond the national frontiers. Five hundred years have gone by after his first play was performed and his work, within the Iberian and European context, has been regarded to be an exceptional legacy in what concerns the cultural and socio-political framework in the first quarter of the 1 6 century. This dissertation has unfolded in its corpus all of Gil Vicente’s plays which had been put on the stage with the aim of celebrating a civic political event. Therefore, the functionality and the reach of the autos have been set out in a time when the centralization of political power was strong and celebrations performed an important role in that society, because those were special moments in order that the king would exhibit all his power and one cannot conceive the courtly space and life without rejoicing. Precisely the first chapter of this dissertation opens with the circumstances of the royal entrances to the town so that one might realise the importance of an event ephemeral, but symbolic altogether. The partings of the infantas from the court and the royal weddings constitute the core of analysis in the second chapter. Much has been researched as to the royal societies between the European Houses, mostly concerning the intent to strengthen bounds between courts. The following chapter focuses on the plays put on the stage to celebrate the births of the king’s children. As for the fourth chapter, the plays selected therein were based on a eulogistic speech or designed somewhere between the panegyric and the court amusement. At last, the fifth chapter systematises Gil Vicente’s works on behalf of the Kings Manuel and John III. It has been concluded, from the bibliography looked into, that during the reign of King Manuel theatre served mostly the royal interests, whereas under John III, besides the playwright’s evolving into a more secular stage, Gil Vicente’s autos would rather express entertaining concerns