Ci, Mãe do Mato: the inverted myth of the amazons in Macunaíma and the modernist project

O presente texto divide-se em duas partes: na primeira, trago considerações gerais e introdutórias sobre Mário de Andrade, seu arquivo da criação literária e a assimilação crítica que fez de outros textos, como os do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg, na elaboração de Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (1978). No segundo momento deste trabalho discuto a representação do mito das amazonas guerreiras no terceiro capítulo da rapsódia, chamado Ci, Mãe do Mato, valendo-me de algumas correspondências, que configuram-se em material auxiliar para a interpretação da obra. Na escrita andradina, o mito das amazonas é descolonizado, porque recebe outros rumos e elementos que distorcem suas características fundantes, ou seja, Mário renega a cópia, ao se apropriar da versão clássica do mito de forma “antropofágica”. Desta perspectiva, Mário empresta à icamiaba brasileira um fundo sexual, carnal e perverso, uma vez que a amazona perde sua característica belicosa e se entrega arrebatadamente aos prazeres do amor junto ao herói. Essa assimilação crítica está inscrita no projeto estético e ideológico modernista, mas também ressoa elementos do Expressionismo alemão, de cuja vanguarda Mário teria sido influenciado no reconhecimento do mito primitivo.The present text is divided in two parts: in the first one, I bring general and introductory considerations on Mário de Andrade, his archive of literary creation and the critical assimilation that was made from other texts, as the ones by German ethnologist Theodor Koch- Grünberg in the writing of Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (1978). In the second moment of this work, I discuss the representation of the myth of warrior amazons in the third chapter of the rhapsody, which is called Ci, Mãe do Mato, using some correspondences which make part of the auxiliary material for the interpretation of the work. In Andrade’s writing style, the myth of the amazons is decolonized, because it receives other routes and elements which distort its funding characteristics. In other words, Mário denies the copy upon using the classical version of the myth in an anthropophagic way. From this perspective, Mário lends the Brazilian icamiaba a sexual connotation, since the amazon loses her characteristic of warrior and ravishingly surrenders to the pleasures of love with the hero. This critical assimilation is registered in the aesthetical and ideological modernist project, but it also resounds elements from the German Expressionism, whose vanguard Mário would have been influenced by in the recognition of the primal myth