A RUBRA ESCRITA DO CORPO SÃO BERNARDO, DE GRACILIANO RAMOS

Graciliano Ramos (1892-1953), entre os romancistas surgidos na décadade 30, destaca-se ao privilegiar na constituição de suas personagens aatividade do pensar sobre o agir. A importância do pensar evidencia-se numtratamento eficaz da narração e do monólogo interior (forma de diálogo indireto,pois toda linguagem pressupõe um eu e um tu), em detrimento do diálogodireto, o que é feito com maestria em São Bernardo (abreviado SB), romancepublicado em 1934. Neste artigo, comento as articulações entre o enredoe a linguagem daquele que narra, considerando que a narrativa assume oestatuto literário a partir do momento em que a personagem inicia um processotambém metalingüístico de compreender a si mesmo e ao próprio movimentodo pensar, inaugurando um amplo diálogo com sua existência projetadana forma narrativa. Graciliano Ramos fez a sua estréia no momento emque os romances publicados colocaram em primeiro plano o espaço e os conflitosentre as personagens e o meio, apresentando aos leitores a singularidadede regiões praticamente desconhecidas pelo público nacional. A região doNordeste, por exemplo, veiculada pelos discursos políticos como se desenhadapor um fatalismo ancestral, propicia um terreno fértil para enredos de cunhosocial e de denúncia, assim como mobiliza uma riqueza semântica (as articulaçõesentre o léxico e a sintaxe na linguagem bem o podem demonstrar),em contraste com as marcas do inóspito e da necessidade