O pensamento psiquiátrico de G. G. de Clérambault: das Psicoses tóxicas ao Automatismo mental

Gaëtan Gatian de Clérambault (1872-1934) was a French psychiatrist who worked over his thirty professional years at the Special Infirmary of the Paris Police Prefecture. He developed several important researches there – some even were considered as novelty at that time – mainly concerning toxic psychoses, Erotomania and his concepts of Mental Automatism. Although contemporary of Freud, Clérambault remained with his organicist ideas influenced by mechanistic thinking, understanding hallucination as a mechanical phenomenon upon which delusion is constituted. Clérambault was an obstinate misogynist, a conservative person and hostile to Freudianism and Surrealism. Due to these aspects, just after his tragic death his personal life became an object of greater public interest than his own work. Initially considered as an anachronistic and marginal thinker – essentially because his narrow constitutionalism – the interest in his academic works has returned after references made by his former student Jacques Lacan. Thereafter, Clérambault reached a relevant place in the psychoanalytic environment (predominantly among Lacanians). This PhD Dissertation aims to reanalyse his work through a literature review. The general assumption is that the rediscovery of his psychiatric work has been strongly biased by Lacan’s idiosyncratic psychoanalytic thinking. Hence, the purpose of this work is not only identifying the distortions that his works might have undergone, but especially recapture the original principles of his thinking and prevent his valuable contributions from being lost to contemporaneity. Clérambault’s works are used as primary data sources, while publications regarding his works and his life are used as secondary sources. As a result, this PhD Dissertation aims to show that those deviations in the original Clérambault’s thinking did not decrease its relevance in the History of Psychiatry.Gaëtan Gatian de Clérambault (1872-1934) foi um psiquiatra francês que se dedicou à prática médico-legal na Enfermaria Especial da Prefeitura de Polícia de Paris durante os seus quase trinta anos de atividade profissional. Nesse espaço público desenvolveu importantes trabalhos de pesquisa, alguns deles considerados inéditos, sobretudo em relação às Psicoses tóxicas, a Erotomania e a construção de seu conceito de Automatismo Mental. Contemporâneo de Freud, manteve-se firme em seus propósitos organicistas e influenciado pelo pensamento mecanicista, concebia a alucinação como um fenômeno mecânico sobre o qual o delírio viria a ser constituído. Misógino obstinado, conservador, hostil ao freudismo e ao surrealismo, logo após a sua morte trágica, a sua vida pessoal se transformou em objeto de maior interesse público do que a sua própria obra. Inicialmente considerado como um pensador anacrônico e marginal, sobretudo por ter privilegiado um constitucionalismo estreito em relação ao dinamismo, o interesse pela sua produção foi resgatado após as reverências que lhe foram feitas por seu ex-aluno Jacques Lacan. A partir de então, Clérambault alcançou um prestígio no meio psicanalítico, principalmente entre os lacanianos, jamais conseguido no meio psiquiátrico depois de sua morte, destacando-se, sobretudo, os seus trabalhos sobre o Automatismo Mental e a Erotomania. Partindo do pressuposto de que a redescoberta de sua obra psiquiátrica tenha se dado sob a influência de uma recepção altamente idiossincrática no âmbito do pensamento psicanalítico de Lacan, essa tese se propõe a resgatar os princípios contidos no pensamento original de Clérambault, expressos através de seus artigos originais, comunicações e apresentações, utilizando-se, para isso, o método da revisão bibliográfica em pesquisa. Os trabalhos psicanalíticos apresentados e publicados sobre a teoria clerambaultiana e utilizados nessa pesquisa têm por finalidade apontar as possíveis distorções que essas leituras trouxeram à originalidade de suas ideias. Os escritos do próprio autor foram utilizados como fonte primária e aqueles feitos pelos seus comentadores, pensadores e admiradores, dedicados à sua biografia e à sua obra, compõem as fontes secundárias. Conclui-se, por fim, que os desvios cometidos pela releitura psicanalítica dos temas abordados por Clérambault não apagaram a importância de sua obra original na História da Psiquiatria