Cultura musical e músicos no século XXI: (re)pensar a formação académica no ensino superior

Tese de Doutoramento em Estudo Culturais (Especialidade de Sociologia da Cultura)Os currículos do ensino especializado da música seguem, em grande parte, os ideais da cultura musical erudita ocidental. No caso de Portugal, onde parte desta cultura adquire significado, outra parte, a cultura musical popular, tem vivido à margem das universidades. Esta investigação teve como objetivo repensar holisticamente a formação do Músico no ensino superior em Portugal, em particular nas Licenciaturas em Música da Universidade do Minho, Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) e Escola Superior de Música de Lisboa (ESML). Problematizou-se o currículo tendo como base três géneros populares distintos: música eletrónica de dança, música para cinema e fado. Numa primeira fase, dedicamo-nos à discussão das relações entre cultura e poder, principalmente na sua forma discursiva. Os géneros populares que serviram de fundo a esta tese permitiram-nos vislumbrar a ambiguidade dos conceitos que circundam a área e perceber como as instituições de ensino se vão adaptando ao frenesim cultural pós-moderno. Refletimos e discutimos o currículo contemporâneo numa perspetiva democrática e inclusiva, como forma de contributo para as políticas em educação no ensino superior. Numa segunda fase, contextualizamos e caracterizamos os cursos das instituições supracitadas através de múltiplas fontes de evidência, como textos de apresentação dos cursos, relatórios de avaliação externa e conteúdos das fichas das unidades curriculares. Este estudo de caso múltiplo assente na análise de conteúdo, perspetivou todos os dados numa lógica reflexiva/interpretativa tratando-os como textos culturais geradores de sentido e significado. Pudemos concluir que estas instituições alicerçam as suas práticas em discursos dominantes e se tornam resistentes às práticas musicais contemporâneas que não se coadunem com a prática discursiva que legitima os conceitos mais tradicionais de música e músico. Assim, a resistência institucional assume-se, paradoxalmente, numa resistência à própria sociedade, com consequências reais para os futuros estudantes de música.The curricula of specialized music education follow, in large part, the ideals of western erudite musical culture. In Portugal, where part of this culture acquires meaning, another part, the popular musical culture, has lived on the margins of the universities. This research aimed to rethink holistically the academic education of the Musician in higher education in Portugal, in particular in the undergraduate courses of Music of the Universidade do Minho, Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) and Escola Superior de Música de Lisboa (ESML). The curriculum was problematized based on three distinct popular genres: electronic dance music, music for cinema and fado. In a first phase, we have dedicated to the discussion of the relations between culture and power, mainly in its discursive form. The popular genres that served as a background to this thesis allowed us to glimpse the ambiguity of the concepts that surround the area and to see how educational institutions adapt to the postmodern cultural frenzy. We reflected and discussed the contemporary curriculum from a democratic and inclusive perspective as a contribution to education policies in higher education. In a second phase, we contextualized and characterized the courses of the aforementioned institutions through multiple sources of evidence, such as course presentation texts, external evaluation reports and curricular contents. This multiple case study, based on content analysis, has focused all data on a reflective/interpretive logic, treating them as cultural texts that generate sense and meaning. We can conclude that these institutions base their practices on dominant discourses and become resistant to contemporary musical practices that do not fit the discursive practice that legitimates the more traditional concepts of music and musician. Thus, institutional resistance, paradoxically, reverses a resistance to society itself, with real consequences for future students of music