Me parece que o que torna aleatório o poético é, justamente, o labirinto da travessia, a incapacidade de traçar linhas retas ou utilitárias, o modo como nos expomos ao que percebemos. A poética oferece uma sensação mais de interrupção do que de acaso. Quero dizer: atravessar o mundo supõe dissimulemos ou não, encarnemos ou não um permanente encontro e desencontro com corpos e vozes de desconhecidos.Estar no mundo e habita-lo poeticamente talvez suponham algo parecido: desestimar qualquer ideia ou vestígio de normalidade, de costume, desse dar de ombros que significa que assim são as coisas. Ali morre parte do mundo e, também, parte de si mesmo.Se de verdade escutamos, se de verdade olhamos, se de verdade nos passa algo além do relato agrad...