Literacia em saúde e adesão à terapêutica na diabetes tipo 2: um estudo transversal em Portugal

Trabalho Final do Mestrado Integrado em Medicina apresentado à Faculdade de MedicinaIntrodução: A adesão à terapêutica tem um papel essencial no controlo da diabetes mellitus tipo 2 (DMT2). A otimização do autocuidado requer competências entre as quais é salientada a literacia em saúde (LS).Objetivo: Perceber a relação entre LS e a adesão à terapêutica farmacológica e não farmacológica, bem como perceber a possível influência de variáveis sociodemográficas e de doença nesta relação.Métodos: Estudo multicêntrico e transversal nos cuidados de saúde primários, utilizando uma amostra representativa da população portuguesa com DMT2 a nível nacional, com idades entre os 20 e os 79 anos. Os dados recolhidos incluíram um questionário sociodemográfico e dois instrumentos de auto-preenchimento, validados para a população portuguesa – Medical Term Recognition Test e Escala de Atividades de Autocuidado com a Diabetes. Dos registos clínicos foi recolhido o último valor de hemoglobina glicosilada (HbA1c) e o número de fármacos da medicação crónica do participante. Foi feita análise descritiva e análise bivariada, utilizando os testes de Spearman e U de Mann Whitney e posterior análise de regressão linear múltipla para estimar a adesão à terapêutica com base na LS, controlando as variáveis que foram consideradas possíveis confundentes.Resultados: A amostra (n = 354) tinha uma idade média de 63.67 ± 10.39 anos, 57.1% do sexo masculino, 68,4% com LS inadequada e uma HbA1c média de 7.03 ± 1.18%. Foi encontrada uma correlação significativa da LS com a adesão ao total das atividades de autocuidado (ϱ = 0.136; p = 0.021), com a terapêutica não farmacológica (ϱ = 0.142; p = 0.009) e com os cuidados com os pés (ϱ = 0.168; p = 0.002). Na análise de regressão linear múltipla, a LS (β = 0.176, p = 0.003), o salário (β = -0.197, p = 0.001) e a insulinoterapia (β = 0.199, p = 0.001) explicaram 8.6% da variação na adesão ao total das atividades de autocuidado. Relativamente à terapêutica não farmacológica, a LS (β = 0.159, p = 0.003), o salário (β = -0.129, p = 0,017) e a insulinoterapia (β = 0.272, p < 0.001) explicaram 10.4% da variação na adesão. Verificou-se que maior LS, salário inferior ao salário mínimo nacional, e insulinoterapia eram fatores independentemente associados a maior adesão.Discussão: Numa amostra aproximadamente representativa dos diabéticos tipo 2 em Portugal, a LS revelou-se um fator chave na capacidade de maior adesão a exigentes atividades de autocuidado com a diabetes. Diferentes instrumentos de avaliação, metodologias e variáveis confundentes consideradas tornam difícil a comparação entre estudos.6Conclusões: Melhor LS está relacionada com maior adesão às atividades de autocuidado, nomeadamente à terapêutica não farmacológica, independentemente do salário e da insulinoterapia e, portanto, deve ser considerada no desenho de estratégias para minorar a não adesão das pessoas com DMT2.Introduction: Therapy adherence is a key factor in the control of type 2 diabetes mellitus (T2DM). Optimal selfcare requires skills among which health literacy (HL) is pointed.Objective: To analyze the relationship between HL and adherence to both pharmacological and non-pharmacological therapy and to understand the possible influence of other sociodemographic and disease variables.Methods: Multicentric, cross-sectional study in primary care, with a representative sample of the Portuguese population with T2DM at national level, aged 20 to 79 years. Data collected included a sociodemographic questionnaire and two validated instruments – Medical Term Recognition Test and Summary of Diabetes Self-care Activities. The last value of glycated hemoglobin (HbA1c) and the number of chronic medications were collected from the participant’s clinical records. Descriptive statistics and bivariate correlations were performed, using Spearman and Mann-Whitney tests. Multivariable linear regression was performed to assess the association between HL and adherence to overall self-care activities and to non-pharmacological therapy while controlling for potential confounders.Results: Participants (n = 354) were on average 63.67 ± 10.39 years old, 57.1% males, 68.4% with inadequate HL and an average HbA1c of 7.03 ± 1.18%. HL was significantly correlated with higher adherence to the total of self-care activities (ϱ = 0.136; p = 0.021), non-pharmacological therapy (ϱ = 0.142; p = 0.009) and foot care (ϱ = 0.168; p = 0.002). In multivariable linear regression analyses, HL (β = 0.176, p = 0.003), salary (β = -0.197, p = 0.001) and insulin therapy (β = 0.272, p = 0.001) explained 8.6% of the variance in adherence to overall self-care activities. Regarding non-pharmacological therapy, HL (β = 0.159, p = 0.003), salary (β = -0.129, p = 0.017) and insulin therapy (β = 0.272, p < 0.001) explained 10.4% of the variance in adherence. Better HL, less than minimum wage and insulin therapy were independently associated with increased adherence.Discussion: In an approximately representative sample of type 2 diabetics in Portugal, LS was a key factor in the capacity for greater adherence to demanding self-care activities with diabetes. Different assessment tools, methodologies and confounding variables considered make it difficult to compare between studies.Conclusions: Better HL seems to lead to increased adherence to overall self-care activities, specifically to non-pharmacological therapy regardless of salary and insulin therapy and thus8should be considered in the design of strategies to overcome nonadherence among patients with T2DM