To tell the truth in modern theatre: Richard III, Hamlet and King Lear

Seguindo o que foi proposto por Michel Foucault em seu curso “Le gouvernement de soi et des autres”, esse trabalho faz uma leitura de três peças de Shakespeare que permitem uma discussão sobre "formas de governabilidade" e veridicção, ideias trabalhadas em torno do conceito de "parresia" pelo pensador francês. Num trânsito interessante entre a história e a literatura, o discurso literário encena o jogo político e seus problemas: em Ricardo III temos um rei usurpador: se são as mentiras que o levam ao poder, são também elas que o irão destituir dele. Hamlet precisa fazer alguma coisa para vingar a morte do pai mas vai ver seus esforços baldados: ninguém quer ouvir a verdade e a sua teatral loucura acaba por chamar mais a atenção do que as verdades que insiste em repetir. Em Rei Lear refina-se ainda mais o aparecimento do discurso da verdade e sua relação com o poder: de suas três filhas, apenas Cordélia dirá a verdade abertamente a seu pai. Podemos chegar a conclusões interessantes sobre a negação de uma única verdade absoluta e a opção pela ambigüidade como complexidade buscada pela literatura moderna, ou, ousando ainda mais, concluir que a governabilidade moderna depende da relativização da verdade, como queria Maquiavel.Following what was proposed by Michel Foucault in his seminar "Le gouvernement de sois et des autres", this paper analyses three Shakespeare plays that allow for a discussion on "forms of governability" and veridiction, ideas developed around the concept of "parresia" by the French thinker. In an interesting movement between History and Literature, the literary discourse enacts the political game and its problems: in Richard III we have an usurping king: if lies are what bring him to power, they are also what will deprive him of it. Hamlet needs to do something to avenge his father's death but he will see his efforts come to nothing: nobody wants to listen to the truth and in the end his stage-madness gets more attention than the truths he insists on repeating. In King Lear both the onset of the discourse of truth and its relations to power are further refined: among his three daughters, only Cordelia will openly say the truth to her father. We can come to interesting conclusions about the denial of one absolute truth and the option for ambiguity as complexity sought by modern literature, or, even more daringly, we can conclude that modern governability depends on the relativization of the truth, as Machiavelli would have it