Projectos educativos de escola : um desafio à organização curricular na escola

Tese de doutoramento em Ciências da Educação (Desenvolvimento Curricular e Avaliação em Educação), apresentada à Universidade de Lisboa através da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, 2000Nesta dissertação, tendo como princípio que a verdade da realidade humana está no todo, na sua totalidade objectiva e subjectiva, procuro, utilizando uma abordagem metodológica plural, multifacetada, construída a partir de métodos e técnicas, tradicionalmente separados, conhecer e compreender o que se faz nas escolas em matéria de organização curricular. Para a concretização de tal objectivo, escolhi como indicador- fundamental o projecto educativo de escola. A partir da análise dos projectos educativos de escola, construídos entre 1991 e 1994 na Área Metropolitana de Lisboa, em escolas com o 3º ciclo do ensino básico, reuni um amplo conjunto de itens que organizei em seis áreas de análise, criadas a partir do cruzamento das referências expressas nos documentos com o quadro teórico definido na literatura de suporte. Analisados os projectos, defino e caracterizo uma tipologia, com o auxílio do SPSS. Querendo encontrar os porquês das características apresentadas, diferenças e similitudes, retomo ás escolas onde prossegui a investigação (re)interrogando as fontes e confrontando as nossas interpretações com as explicações dos actores, responsáveis pela realização/construção dos projectos. Reunidos todos os dados, constatei a existência de uma cultura profissional construída entre as determinações curriculares oficiais de carácter nacional, os contextos e suas peculiaridades e as práticas pedagógicas dos professores, fortemente, marcados pelos saberes disciplinares, povoada de mitos e medos, mas também de alguns sonhos. Em consequência, a expansão da diversidade de sentimentos e procedimentos, dentro de cada uma das escolas, refreada, apenas, pelo peso das determinações curriculares emanadas dos serviços centrais, particularmente dos programas. Dai a identificação de uma tipologia, sustentada por três racionalidades distintas em que se destacam a vontade de congregar esforços e obter consensos, a reflexão no sentido da reconceptualização e o planeamento estratégico. A emergência de qualquer destas racionalidades, em nossa opinião, explica-se essencialmente pela força das conjunturas, nomeadamente pelo "poder'' da palavra ou da ideia de quem dirige a escola. Concluído o estudo, entendo que o projecto educativo de escola lançou um forte desafio aos actores, mas não conseguiu, por enquanto, levar à construção nas escolas, de uma politica curricular distinta e original. Os modelos de formação em desenvolvimento, por seu turno, parecem não ser suficientes para ultrapassar os mitos e os medos de forma sistemática e coerente, e implementar novas formas de trabalho. Neste contexto, ao nível da escola, em matéria de organização curricular o possível fica muito aquém do que se deseja e é claramente, insuficiente para a construção de verdadeiras alternativas. Daí as reflexões finais sobre a necessidade de uma outra politica curricular de reconhecimento e integração dos esforços dos actores indispensável, a meu ver à promoção de idênticas oportunidades para todos os jovens e respectivas famílias