Saúde Mental e Autoconceito Sexual: uma comparação entre uma amostra clínica e não clínica

O presente estudo incide na temática da saúde mental e do autoconceito sexual, fornecendo mais informação acerca de um tema tão pouco investigado, sobretudo em Portugal. Neste sentido, um dos objetivos foi validar e aferir o Questionário Multidimensional do Autoconceito Sexual para a população portuguesa, e o outro objetivo consistiu em comparar diferenças nos níveis de autoconceito sexual e saúde mental numa amostra clínica e numa amostra não-clínica, bem como determinar a relação preditiva entre o autoconceito sexual e a saúde mental. Método: Participantes: Amostra A, 494 utilizadores da internet, média de idades de 27.68 e desvio-padrão de 8.98; e Amostra B, 131 participantes (média de idades de 36.8 e desvio padrão de 11.15) divididos entre 61 pacientes, com diagnóstico clínico, do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar Cova da Beira e 70 participantes da população geral e sem psicopatologia. Instrumentos: Questionário sociodemográfico, Questionário acerca da sexualidade, o Questionário Multidimensional do Autoconceito Sexual (Snell, 1995) e o Inventário de Saúde Mental (Pais Ribeiro, 2001). Resultados: Os resultados da validação psicométrica do Questionário Multidimensional do Autoconceito Sexual indicaram uma boa sensibilidade, uma consistência interna excelente (a = 0.91), uma adequabilidade para a análise fatorial excelente (KMO = 0,95) e 5 dimensões retiradas da análise fatorial com uma consistência interna muito boa, revelando-se uma boa ferramenta de mensuração deste constructo. Relativamente ao estudo comparativo entre amostra clínica e não-clínica, verificou-se que a amostra clínica apresenta níveis mais baixos de saúde mental, reportando mais ansiedade, depressão, perda de controlo emocional e comportamental e distress psicológico; a população clínica apresenta mais emoções negativas no que respeita ao autoconceito sexual; os homens parecem estar mais vigilantes relativamente aos aspetos sexuais; quem refere tomar psicofármacos apresenta níveis mais baixos de saúde mental (mais ansiedade, depressão e distress psicológico); os sujeitos com um grau de escolaridade menor apresentam menores níveis de saúde mental e um autoconceito sexual mais baixo; os indivíduos que mantêm uma relação amorosa atual, revelam mais afeto positivo em termos de saúde mental e sugerem mais locus de controlo emocional e menos emoções negativas no que respeita ao autoconceito sexual; quem referiu ter relações sexuais no último mês apresenta níveis mais elevados de saúde mental, bem como um autoconceito sexual mais elevado; os indivíduos mais jovens exibem maiores níveis de saúde mental e um autoconceito sexual mais elevado comparativamente aos sujeitos com mais idade; e, finalmente, resulta deste estudo, uma relação preditiva que nos permite afirmar que uma boa saúde mental é preditora de um bom autoconceito sexual. Desta forma, salienta-se e reforça-se a importância de um investimento maior no que diz respeito à saúde mental, que intervém nas mais diversas áreas da vida.The present study focuses on mental health and sexual self-concept, providing more information on a subject under investigated, especially in Portugal. Thus, one of the goals was to validate the Sexual Self-Concept Multidimensional Questionnaire for the Portuguese population, and to compare differences in levels of sexual self-concept and mental health in a clinical sample and a non-clinical sample, and determine the predictive relationship between sexual self-concept and mental health. Method: Participants: Sample A, 494 internet users, mean age of 27.68 and a standard deviation of 8.98; and Sample B, 131 participants (mean age of 36.8 and standard deviation of 11.15) divided between 61 patients with clinical diagnosis, from the Department of Psychiatry and Mental Health of Cova da Beira Hospital Centre and 70 participants from the general population without psychopathology. Instruments: Sociodemographic Questionnaire, Questionnaire about sexuality, the Sexual Self-Concept Multidimensional Questionnaire (Snell, 1995) and the Mental Health Inventory (Pais Ribeiro, 2001). Results: The results of the psychometric validation of the Sexual Self-Concept Multidimensional Questionnaire showed good sensitivity, excellent internal consistency (a = 0.91), excellent adequacy for fator analysis (KMO = 0.95) and 5 dimensions taken from fator analysis with a very good internal consistency, proving to be a good tool to measure this construct. For the comparative study of clinical and non-clinical samples, it was found that the clinical sample exhibits lower levels of mental health reporting more anxiety, depression, loss of emotional control, and behavioral and psychological distress; clinical population has more negative emotions in relation to sexual self-concept; men seem to be more vigilant regarding sexual aspects; those who take psychotropic medication show lower levels of mental health (more anxiety , depression and psychological distress); subjects with a lesser degree of education have lower levels of mental health and lower sexual self-concept; individuals who maintain a current romantic relationship, show more positive affect on mental health and suggest more locus of emotional control and less negative emotions in relation to sexual self-concept; those who reported having sexual intercourse in the last month have higher levels of mental health, as well as a higher sexual self-concept; younger individuals exhibit higher levels of mental health and a higher sexual self-concept compared to older participants; and finally, a predictive relationship was found for good mental health as being a good predictor of sexual self-concept. Thus, we emphasize and reinforce the importance of investing more in regards to mental health, which affects several areas of life in general