Sujeitos que lembram: história oral e histórias de vida

Desde 1994 estamos desenvolvendo diversos projetos no Núcleo de Pesquisas sobre Memória e Educação - Clio, no Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Os resultados obtidos estão diretamente ligados ao uso da história oral e das histórias de vida. O objetivo deste texto é o de contemplar a possível relação entre o rememorar, oportunizado pelas práticas da história oral e das histórias de vida, e a constituição das individualidades envolvidas nessas práticas, entendida como um processo de humanização necessário devido à alienação imposta pela modernidade e pelo contexto da respectiva crise. Para apresentar o tema proposto usaremos três idéias básicas, duas conclusões da história e uma conclusão (embora genérica!) de nossa prática de pesquisa com história oral e com histórias de vida. Primeiro: os seres humanos, no processo de criação da cultura, produzem-se a si próprios. O mesmo processo de criação da cultura foi responsável pela diferenciação dos seres humanos dos demais seres da criação. O conceito de Ser Humano engloba o conceito de Cultura, o que o distingue das primeiras espécies governadas exclusivamente por leis biológicas. Nessa ótica, o conceito de cultura está impregnado de sentido do humano. Toda a produção da cultura pelo ser humano é, ao mesmo tempo, a produção do ser humano pela cultura. Segundo: as atividades alienadas dos seres humanos produzem a cultura alienada. Por sua vez, a existência de uma cultura alienada produz seres humanos alienados e desumanizados. Terceiro: pela rememoração proporcionada, às pessoas envolvidas nas práticas de história oral e de histórias de vida, o passado é reconstituído como fragmentos de um mosaico composto de significados do próprio sujeito que rememora e daqueles que lhe são externamente atribuídos.Palavras-chave: memória, história oral, histórias de vida. Abstract Since 1994 we have been developing several projects in the Nucleus of Researches about Memory and Education - Clio, at Centro de Educação [College of Education] at Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brazil. The achieved results are closely linked 10 the uses of the oral story and of the life stories. The aim of this text is contemplate the possible relationship between the remembrance, provided by the practices of the oral story and life stories and the constitution of the individuals involved in these practices, as a necessary humanization process due to the alienation imposed by the modernity and by the context of ills crisis. To dispose the proposed theme we will use three basic ideas, two conclusions of history, and a conclusion (although generic) of our research practice with oral story and life stories. The first: the human beings, in the process of creation of the culture self produce their own. The same process of creation of the culture was responsible for the human beings differentiation from the other beings of the nature. The concept of human being lakes the one of culture within it, which distinguishes it of the first species governed exclusively by biological laws. In this way, the concept of culture carries the human sense. Ali the production of the culture by the human being is, at the same time, a production of the human being by the culture. The second: the alienated activities of the human beings produce the alienated culture. For its lime, the existence of an alienated culture produces alienated and inhumane human beings. The third: in the proportionate remembrance among the individuals involved in the practices of oral story and !life story, the pals is reconstituted as fragment that composes the mosaic of the meanings that the individual who reminisces is self attributed and the ones that are externally attributed. Keywords: memory, oral history, life history.