Se fosse concedido à literatura brasileira o direito de existência no mundo letrado ocidental, a melhor crítica do Diário de um ano ruim, de J. M. Coetzee, teria salientado o parentesco com o papel do romance machadiano em seu tempo. À semelhança de Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), o último romance do premiado autor sul-africano, hoje naturalizado australiano, questiona a organização tradicional do livro de ficção. Cada página do Diário de um ano ruim está dividida, primeiro, em dois blocos paralelos e, a partir da página 33 até o final, em três blocos. Cada um dos blocos é semi-autônomo, embora os três, conjuntamente, não se apresentem desprovidos de afinidades óbvias ou sutis, a serem desenvolvidas pela imaginação e a habilidade do...