Crianças e TIC : uma relação desigualmente construída na família

IV Colóquio Luso-brasileiro de Sociologia da Educação, 19-21 de junho de 2014, FLUP, Porto.As crianças têm cada vez mais acesso, e em idades mais precoces, às tecnologias de informação e comunicação (TIC), em diversos contextos, muito especialmente em casa. Para isso tem contribuído o investimento realizado quer pelo Estado, quer pelas próprias famílias. Abordamos, neste texto, o modo como os usos das TIC, em geral, e no trabalho escolar, em particular, por parte das crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico, são coordenados na família (definição de regras e acompanhamento dos usos) e como essa coordenação é realizada em função dos recursos possuídos (escolares e digitais) e das dinâmicas de organização interna das famílias. Procuramos, assim, perceber em que medida a construção da relação das crianças com as TIC é marcada por desigualdades externas (desigualdades sociais) e internas ao contexto familiar (desigualdades de género na repartição do trabalho familiar), assim como ambas se articulam. Equacionam-se estas questões a partir de dados de dois estudos de caso, realizados em regiões diferentes de Portugal, que incidiram nos usos e efeitos do computador Magalhães. Partindo de dados qualitativos e dos resultados de uma análise de cluster hierárquica, reveladora da existência de três perfis de relação com o computador Magalhães, relacionados com usos diferentes de outros computadores, por parte das crianças, evidencia-se a forma como esses perfis se encontram associados a desigualdades de classe e de género no trabalho de coordenação realizado pelas famílias.