Intoxicações voluntárias em adolescentes - casuística de recorrência ao serviço de urgência de um hospital distrital

Introdução: O consumo abusivo de substâncias como álcool, medicamentos ou drogas ilícitas em adolescentes tem uma incidência cada vez maior em idades cada vez mais precoces. O álcool é a substância mais comummente implicada em intoxicações voluntárias em adolescentes, sendo que maioria destes consumos ocorre durante convívio social. As intoxicações são causa frequente de recorrência de adolescentes ao Serviço de Urgência (SU) e causa importante de morbilidade. O objetivo deste trabalho é caracterizar as intoxicações voluntárias em adolescentes que recorreram ao SU do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (CHEDV) entre 2009 e 2010. Material e Métodos: Estudo retrospetivo por análise de processos clínicos dos adolescentes (11-17 anos) que recorreram ao SU por intoxicação voluntária de qualquer tipo. Foram analisadas variáveis demográficas, tipo e motivo da intoxicação e sua orientação. Resultados/Discussão: As intoxicações voluntárias correspoderam a 0,54% de todos os adolescentes admitidos no SU. O estudo incluiu 139 adolescentes, 53,2% do sexo feminino com uma idade média de 15,7 anos. A afluência foi maior ao fim de semana e durante a madrugada (0h-6h). A intoxicação alcoólica foi a causa mais frequente (63,3%), seguida da medicamentosa e por drogas ilícitas. O convívio social foi o contexto mais frequente, sendo a ideação suicida rara (n=3). Problemas de ordem afetiva foram frequentemente referidos como motivo de consumo; antecedentes de patologia psiquiátrica e intoxicações anteriores foram descritos. Não foi encontrada diferença significativa entre os dois sexos exceto na intoxicação medicamentosa, mais frequente no sexo feminino. A intoxicação medicamentosa foi motivo de admissão em mais de um terço dos adolescentes, principalmente com recurso a benzodiazepinas e anti-piréticos/anti-inflamatórios. As intoxicações mistas (alcoólicas e medicamentosas) estiveram presentes em 3,6% dos casos condicionando maior risco de morbi-mortalidade. Foi realizado algum tipo de exame complementar na quase totalidade dos adolescentes (91,4%), sendo a fluidoterapia a terapêutica mais frequente. A grande maioria dos adolescentes teve alta para o domicílio, dois foram internados em Unidade de Cuidados Intensivos e 35,3% mantiveram seguimento em ambulatório. Conclusão: As intoxicações voluntárias são motivo frequente de recorrência ao SU, afetando idades cada vez mais precoces e condicionando importante morbilidade e utilização de recursos