Travestis: percursos e percalços para a conquista da cidadania

This paper intents to discuss the achievement of a citizenship for the travestis, not through the perspective of equality, but based upon their own values and specificities. It is intended to demonstrate how the evolution of the concepts and representations of sex and gender created articulations of knowledge and power that allowed a strict control over individuals, disciplining their behaviours and sanctioning as illegitimate and abject the interpretations of gender norms in bodily constructions that echo in subjective transformation of the travestis. Through interviews, it is sought an enhanced comprehension of their realities and stories, from descriptions of a childhood usually marked by conflicts and repression of their games and desires, of school experiences complete with physical and verbal assault, of dropping out, of difficulties of insertion in the labour market, of the social and cultural conditionings established by themselves, of their hopes and dreams. It is made a proposition for a possible alternative of overcoming the discrimination usually addressed to travestis, through the strengthening of the belonging bonds that stimulate the association around a political and social project of their own, organized in solidarity networks, which make their specific demands become collective ones, and allow them to claim for dignity and human rights in a perspective of respect for their peculiarities.Este trabalho intenta discutir a conquista de uma cidadania para as travestis, não pela ótica da igualdade, mas baseada em seus valores e suas especificidades. Busca-se demonstrar como a evolução dos conceitos e representações de sexo e gênero engendraram articulações de saber e poder que possibilitam um severo controle sobre os indivíduos, disciplinando seus comportamentos, e sancionando como ilegítimos e abjetos os modos de interpretação das normas de gênero em construções corporais que repercutem em transformações subjetivas das travestis. Por meio de entrevistas, buscou-se uma melhor compreensão de suas realidades e suas histórias, a partir de relatos de uma infância geralmente marcada por conflitos e pela repressão de suas brincadeiras e seus desejos, de vivências escolares atravessadas por histórias de agressões físicas e verbais, de abandono dos estudos, de dificuldades de inserção no mercado de trabalho, das condicionantes sociais e culturais das relações por elas estabelecidas, das esperanças de realização e de seus sonhos. Propõe-se uma alternativa possível de superação da discriminação usualmente dirigida contra as travestis através do fortalecimento dos vínculos de pertencimento que fomentam o associativismo em torno de um projeto político e social próprio, organizado em redes de solidariedade que coletivizam suas demandas pontuais e lhes permite reivindicar dignidade e direitos humanos em uma perspectiva de respeito às suas peculiaridades