Injeções leucograníticas sintectônicas oriundas da fusão parcial dos paragnaísses do Complexo Várzea do Capivarita na Folha Encruzilhada do Sul, RS

O Complexo Várzea do Capivarita (CVC), localizado no segmento meridional da Província Mantiqueira, no Escudo Sul-rio-grandense (ESrg), representa parte do embasamento do Batólito Pelotas e compreende ortognaisses e paragnaisses pelíticos e calcissilicáticos, intercalados tectonicamente, além de sienitos sintectônicos. Apresentam idades de cristalização de 790-780 Ma e metamorfismo de fácies granulito 650-640 Ma (U-Pb em zircão). Dois eventos deformacionais são registrados no CVC, D1 relacionado a um regime de cavalgamento e D2 à uma zona de cisalhamento obliqua. A presença significativa de injeções leucograníticas deformadas nos gnaisses, encontradas na região de Encruzilhada do Sul, bem como a verificação de feições de fusão parcial no CVC e os relatos de migmatização, sugerem que essas injeções seriam oriundas da fusão parcial dos gnaisses. Tendo em vista a importância das injeções na área de estudos, a caracterização petrográfica, geoquímica e estrutural dessas e de sua relação com os gnaisses deve auxiliar no entendimento da evolução metamorfico-deformacional de parte do ESrg. As injeções são granada-biotita monzogranitos, alotriomórficos com textura fina a média, de espessura geralmente centimétrica e venulações milimétricas. A foliação fina bem desenvolvida dada pela orientação da biotita é concordante com o bandamento gnaissico relacionado ao primeiro evento de deformação, e sugere que essas injeções são sindeformacionais. O amalgamento de vênulas até corpos decimétricos verificado em campo pode indicar a presença de corpos leucograníticos de maior escala. Onze lâminas petrográficas de paragnaisses e leucogranitos mostram que ocorreu migmatização dos gnaisses com segregação do leucossoma. O leucossoma mostra similaridades com as injeções em relação ao seu conteúdo mineralógico (Bt-Grt-Kfs-Qz-Pl) e texturas. A presença de xenocristais de granada e resíduos de textura granoblástica nas injeções também é um indício para correlacionar ambas litologias. Análises químicas foram realizadas em oito amostras e mostram que os leucogranitos são diferenciados em relação aos gnaisses, com teores de SiO2 entre 69 e 76%, Al2O3 (12,2 – 15,1%), Na2O (2,4 - 3,1%), K2O (1,7 - 4,2%), CaO (1,2 - 4,3). Os valores são coerentes com as estimativas do líquido gerado pela fusão parcial dos gnaisses, à exceção dos valores maiores de CaO e menores de K2O do que os esperados. A presença de rochas calcissilicáticas na região pode contribuir para os altos valores de CaO e as diferentes paragêneses dos paragnaisses pelíticos à variação no K2O. Os valores de A/CNK indicam o caráter peraluminoso das injeções. A correlação petrográfica e geoquímica entre leucossomas e leucogranitos, além dos altos valores de SiO2, o caráter peraluminoso e também a presença de coríndon normativo, indicam que esses leucogranitos são oriundos da fusão crustal dos paragnaisses do CVC, podendo ser classificados como granitos do tipo-S. A presença de grande volume de injeções e a ausência de deformação relacionada a transcorrência sugere pouca migração do líquido gerado pela fusão parcial.The Várzea do Capivarita Complex (VCC), situated in the southern Mantiqueira Province, Sul-rio-grandense Shield, is part of the Pelotas Batolith basement, comprising orthogneisses, pelitic and calcisilicate paragneisses, tectonic interleaved, and syntectonic syenites. The rocks show cristalization ages of 790-780 Ma and metamorphism 650-640 Ma (U-Pb in zircon). The VCC registered two deformational events, D1 related to a thrusting event and D2 related to an oblique shear zone. The substantial presence of leucogranitic injections found in Encruzilhada do Sul region, together with the verification of partial melt features and migmatization reports for VCC, suggests that the leucogranits are originated from the partial melt of the gneisses. Regarding the importance of these injections in the study area, the petrographic, geochemistry and structural characterization of these and their relation with the gneisses should help the understanding of the Sul-rio-grandense Shield metamorphic and deformational evolution. The injections are garnet-biotite monzogranites, alotriomorphic and fine to medium-grained. They show centimetric thickness or milimetric venulations. Foliations are fine and well-developed market by biotite orientation, concordant with the gneissic banding related to D1, suggesting that the injections are sintectonics. Milimetric venulations can amalgamate to decimetric bodies, which can indicate the presence of larger leucogranitic bodies. Eleven thin sections of paragneisses and leucogranits show that there was migmatization of the gneisses with leucossome segregation. The leucossome shows similarities with the injections regarding to its mineralogical (Bt-Grt-Kfs-Qz-Pl) and textural content. The presence of garnet xenocrystals and residual granoblastic textures in the injections are a good correlation between both lithologies. Geochemistry analysis in eight samples shows the occurrence of differentiation of the leucogranites when compared to gneisses, with SiO2 contents between 69 and 76%, Al2O3 (12,2 – 15,1%), Na2O (2,4 - 3,1%), K2O (1,7 - 4,2%), CaO (1,2 - 4,3). The values are coherent with the melt estimated for the partial melt of the paragneisses, except for higher CaO values and lower K2O. The presence of calc-silicate rocks in VCC can contribute to these higher CaO values and the different paragenesis of the pelitic gneisses to the K2O variation. The A/CNK values indicate the leucogranits peraluminous character. The petrographic and geochemistry correlation between leucossomes and leucogranits, in addition with the high SiO2 values, the peraluminous character and the presence of normative corundum, indicate that these leucogranits are originated from the crustal melt of the VCC paragneisses, classifying them as type-S granites. The presence of large injections volumes and the absence of shear deformation suggests the low migration of the melt