Ler e escrever com todos os sentidos: Programa e método multissensorial

No 1.º Ciclo de educação Básica, a aprendizagem da leitura e da escrita são uma ferramenta fundamental para potencializar o sucesso académico de todas as crianças. Contudo, nem todas as crianças reúnem as mesmas condições para que estas aprendizagens ocorram, como é o caso dos alunos com Perturbação Intelectual (PI) e Perturbações Fonológicas (PF). O objetivo deste estudo experimental foi compreender e documentar as alterações que ocorreram, na aprendizagem da leitura e na escrita, decorrentes do desenvolvimento e implementação de um programa de ensino da leitura e escrita baseado na metodologia multissensorial. Segundo Capovilla e Capovilla (2002) esta metodologia é a mais adequada para ensinar crianças que já experimentaram com enorme insucesso escolar. A construção do método multissensorial «Ler e escrever com todos os sentidos» foi baseada na nossa experiência, como terapeuta da fala, recorrendo a múltiplas ajudas sensoriais: visuais, auditivas, táteis, quinestésicas e fonoarticulatórias. Este método foi aplicado ao longo de quatro meses, em sessões individuais semanais, de 45 minutos, em contexto hospitalar. Foram selecionados, por conveniência, cinco participantes com PI e PF, com três ou mais anos de escolaridade sem aprendizagens de leitura e escrita. Os cinco participantes foram avaliados inicialmente com a ACLLE (Bateria de Avaliação das Competências de Leitura e Escrita) que avalia a criança em idade escolar, nas áreas da fonologia, leitura e escrita e com a Baterria Infant/Toddler Sensory Profile, que possibilitou traçar o perfil sensorial de cada participante. Deste método, fazem parte 21 pranchas, que representam a correspondência fonema/ grafema pura, ou seja, cada grafema apresenta uma única representação fonémica e vice-versa. Cada prancha apresenta um grafema, com a respetiva descrição do gesto e a pista visual utilizada. No final da aplicação deste método todos os participantes foram reavaliados com a aplicação da ACLLE, podemos constatar que os participantes demonstraram melhorias nos processos de leitura e escrita. Nos processos de leitura podemos verificar melhorias em 4 dos 5 participantes, já nos processos de escrita verificaramse melhorias em todos os participantes. Segundo Moats (2005) aprender a ler e aprender a soletrar apresentam processos de aprendizagem semelhantes. De modo a compreender os processos de leitura e escrita, é essencial que a criança compreenda a natureza segmental da linguagem (Pugha et al., 2001). Por isso, parece-nos importante referenciar, apesar de não fazer parte dos objetivos deste estudo, que foram verificadas melhorias na consciência fonológica, em todos os participantes.