Bullying em idade escolar: diálogos sobre as multiplicidades da vitimação e a prevenção com crianças

Tese de Doutoramento em Estudos da Criança (Especialidade em Educação Física, Lazer e Recreação)O bullying é descrito como abuso sistemático de poder constituindo uma realidade internacional. Os objetivos deste estudo visam compreender de que forma evolui a prevalência das múltiplas formas de vitimação e os níveis de proatividade face ao bullying por parte das crianças do 3º ciclo do ensino básico. Procuramos ainda avaliar eficácia da implementação de um Programa Preventivo Anti-Bullying com e para Crianças (PPA-BcpC) associado ao aumento dos comportamentos pró-ativos entre pares face ao bullying, ao longo do 3º ciclo do ensino básico. A metodologia foi quantitativa. Foi aplicado um questionário de autorrelato em formato digital aos participantes em todos os estudos, avaliando-se as questões sociodemográficas, comportamentos de vitimação e ou agressão e os diferentes papéis dos observadores face às situações de bullying em idade escolar. A tese foi organizada em três estudos, os quais foram realizados em escolas públicas, pertencentes a três Agrupamentos de escolas do ensino básico do norte de Portugal. A amostra variou de acordo com o respetivo estudo. No estudo 1, participaram 360 alunos do 7º ano do ensino básico (168 feminino, 46,7% ; 192 masculino, 53,3%, com idades compreendidas 11-16 anos. No estudo 2, participaram 162 alunos em termos médios (171 alunos no 7º ano; 160 no 8º e 156 no 9º ano; com idades compreendidas 13-18 anos), apresentando uma distribuição média associada ao género de 52% feminino e 48% masculino. Finalmente, no estudo 3, participaram um total de 50 alunos, pertencentes ao 7ºano (25 grupo de controlo, 11 feminino, 44% e 14 masculino, 56% e 25 grupo de intervenção, 13 feminino - 52% e 12 masculino - 48% ; com idades entre os 11 e os 14 anos). Os resultados globais obtidos permitem-nos afirmar que a vitimação continuada e assimétrica de comportamentos agressivos e ou de intimidação entre pares, constitui uma realidade preocupante e que a mesma se manifesta de múltiplas formas e com diferenças associadas às questões de género só para algumas formas de bullying. Deste modo, 30% a 49% dos alunos foram vítimas de bullying genérico. Assim, os principais resultados dos estudos indicam não haver diferenças estatisticamente significativas associadas ao género e as múltiplas formas de vitimação, com exceção, na vitimação física e de exclusão no início do 7º ano (p>0.05). Relativamente ao bullying homofóbico, verificou-se que a prevalência aumentou do 7º para o 9º ano, sendo que o género masculino, apresentou maior frequência de vitimação comparativamente ao feminino, registando-se diferenças estatisticamente significativas no 9º ano (p>0.05). A implementação do PPA-BcpC surtiu efeitos positivos no grupo de intervenção associados aos perfis de «observadores proativos», «vítimas» e «observadores passivos», enquanto nos perfis de «agressores» e «vítimas agressoras» se observou uma manutenção das prevalências registadas na fase diagnóstica. Quando mais de um terço dos alunos se situa como vítima de agressões e ou intimidações assimétricas e continuadas, ao longo de um período escolar, urge problematizar os mecanismos de intervenção educativa patrocinados pela instituição escolar, através do respetivo projeto pedagógico, pois está comprometido o processo de socialização saudável entre pares. As diferenças associadas às diferentes formas de vitimação e o género tendem a esbater-se ao longo dos três anos em estudo. Os dados revelam ainda que o bullying homofóbico é uma realidade no contexto escolar, onde o género masculino surge mais envolvido em situações de bullying comparativamente ao feminino, pelo que os programas de intervenção devem contemplar as estratégias a desenvolver no sentido de prevenir a sua existência. As prevalências registadas associadas às múltiplas formas de vitimação e os comportamentos proativos por parte dos observadores, reforçam a necessidade de programas de prevenção nas escolas, enquadrados numa perspetiva sistémica privilegiando a intervenção dos observadores face às situações de bullying e em estreita articulação com os pais, pessoal docente e não docente. Por fim, os dados associados à implementação do - PPA-BcpC, revelam que através de um trabalho Anti-Bullying desenvolvido com crianças, é possível promover comportamentos proativos entre pares face ao bullying, seja por via direta e não violenta, seja indireta com recurso à denúncia aos adultos. Assim, concluímos que crianças constituem um grupo a ter em conta, na prevenção do bullying através da respetiva participação proativa e alicerçada em pontes de pares.Bullying is described as systematic abuse of power and emerge as an international reality. The purpose of this study was to understand how is developed the prevalence of multiple forms of victimization and the levels of proactivity in relation to bullying in children of the 3rd cycle of elementary education. The effectiveness of the implementation of a Preventive Anti-Bullying Program with and for Children (PPA-BcpC) was also assessed with the increase of proactive behaviors among peers towards bullying. A quantitative methodology was used and a self-report questionnaire was applied, assessing sociodemographic issues, victimization and or aggression behaviors, and the different roles of observers towards bullying situations. The thesis was organized in three studies, and carried out with three groups of Portuguese primary public schools. The sample was adjusted to the objectives of each study. In study 1 participated 360 students from the 7th year of primary education (168 females, 46.7%; 192 males, 53.3%; aged 11 to 16 years). In study 2 participated 162 students (171 from the 7th grade, 160 from the 8th grade and 156 from 9th grade; aged 13 to 18 years). Finally, in study 3, participated 50 children from 7th grade (25 of them were in control group and 25 in the intervention group; aged 11 to 14 years). Results obtained evidence that the continued and asymmetric victimization of aggressive and / or intimidating behaviors among peers are a worrisome reality. It manifests itself in multiple ways and with differences related to gender issues, but only for some forms of bullying. Thus, 30% to 49% of the students were victims of generic bullying. The main results of the studies indicate that there are no significant differences associated with gender and multiple forms of victimization, with the exception of physical victimization and exclusion at the beginning of the 7th grade (p>0.05). Concerning homophobic bullying, it was verified that the prevalence increased from the 7th to the 9th year, and the male gender presented a higher frequency of victimization compared to the female, with statistically significant differences in the 9th year (p>0.05). The implementation of the Preventive Anti-Bullying Program for Children and Adolescents (PPA-BcpC) had positive effects in the intervention group associated with the profiles of «proactive observers», «victims» and «passive observers», while with «aggressor» profiles and «Aggressive victims» there was a continuation of the prevalences recorded during the diagnostic phase. When more than a third of the students are victims of asymmetric and continuous intimidation and / or bullying, during a school period, it is necessary to problematize the educational intervention mechanisms sponsored by the school, through its pedagogical project. Data also reveal that homophobic bullying is a reality at the school context, where the male gender is more involved in bullying compared to the female. Thus,, intervention programs must contemplate the strategies to be developed in order to prevent their existence. The prevalence of multiple forms of victimization and proactive behavior by observers reinforces the need for prevention programs in schools, which should be framed on a systemic perspective favoring the intervention of observers towards bullying effects and in coordination with parents, teaching and non-teaching staff. Finally, the data associated with the implementation of the PPA-BcpC, reveal that through an Anti-Bullying program developed with children it is possible to promote proactive behaviors among peers towards bullying, either directly and assertively, or indirectly through the resource to adults. We conclude that children constitute a group to be taken into account in the prevention of bullying through its proactive participation and based on peer bridges