Relação mãe-criança, ambiente prisional e irritabilidade materna

Tese de mestrado em Psicologia (Psicologia Clínica) apresentada à Universidade de Lisboa através da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, 2001Este trabalho pretendeu estudar os efeitos da irritabilidade materna e da vivência em meio prisional na relação mãe-criança e no desenvolvimento psico-afectivo da criança. Utilizaram-se duas amostras. A primeira, recolhida em meio natural, era composta por 27 díades mãe-criança e, a segunda, recolhida em meio prisional, tinha 25 díades. Em cada díade, as crianças tinham idades compreendidas entre os 9 e os 48 meses, e a idade das mães variava entre os 21 e os 49 anos. Avaliou-se a relação mãe-criança através da Escala de Observação de Greenspan e Lieberman (G.L.O.S.); a expressão dos afectos da criança através da escala Kiddie-Infant AFFect Profil; o desenvolvimento psicomotor da criança a partir da Escala de Desenvolvimento Psicomotor da 1ª Infância de Brunet e Lézine; a irritabilidade materna através da Escala de Irritabilidade Parental de António Pires e, a depressão das mães a partir do Inventário de Depressão de Beck (B.D.I). Foram realizados dois tipos de estudo. Um estudo comparativo entre as díades mãe-criança em meio natural e as díades mãe-criança em meio prisional (relativamente à relação mãe-criança e, aos afectos e desenvolvimento psicomotor da criança), no qual recorremos à Análise de Variância. Além disso, realizaram-se estudos correlacionais entre a irritabilidade materna e: a) a relação mãe-criança; b) os afectos da criança; c) o desenvolvimento psicomotor da criança e, d) a depressão das mães (de forma a controlar o efeito da depressão na irritabilidade materna). Nesta análise, os dados obtidos em cada amostra foram tratados, separadamente. Os resultados obtidos permitiram concluir que, relativamente à comparação das díades em meio natural e em meio prisional, existem diferenças significativas em alguns comportamentos interactivos maternos, em alguns comportamentos interactivos da criança e, na expressão dos afectos da criança; no desenvolvimento psicomotor não se encontraram diferenças significativas. No que respeita à irritabilidade materna, esta produz diferentes efeitos nas duas amostras. Nas díades em meio natural, está correlacionada com alguns comportamentos interactivos maternos, alguns comportamentos interactivos da criança e os afectos da criança ( mais tristeza, medo, cólera, enfado, aflição e agressividade). Nas díades em meio prisional, está correlacionada com outros comportamentos interactivos maternos, outros comportamentos interactivos da criança, os afectos da criança (mais medo, agressividade e regressão e, menos aflição) e, com um menor desenvolvimento psicomotor.This work intended to study the effects of maternal irritability, and the effects of living in a prison environment upon the.mother-child relationship and upon the psycho- -emotional development of the child. Two samples were gathered. The first one recollected in natural environment had twenty-seven mother-child dyads, and the second one, recollected in prison environment had twenty-five mother-child dyads. In each dyad, children had ages between nine and forty-height months, and mother's age was between twenty-one and forty-nine years. Mother child relationship was assessed with Greenspan and Lieberman Observation Scale, children's affect expression was assessed with Kiddie- -Infant Affect Profil, children's psychomotor development was assessed with Brunet and Lézine Scale of Psychomotor Development; Maternal Irritabihty was assessed with Escala de Irritabihdade Parental of Professor António Pires and, mother's depression was assessed with Beck Depression Inventory. Two studies were performed. The first one comparing mother-child dyads in both environments (natural and prison), in respect to mother-child relationship and to children's affects and psychomotor development, by using Variance Analysis. The second one, correlating maternal irritability and: a) mother child relationship; b) children's affects; c) psychomotor development of the child and, d) mother's depression (in order to control de effect of depression upon maternal irritability). In this analysis, data from each sample were treated separately. The results lead us to conclude that, about dyads comparison (in natural and prison environment) there are significant differences in some maternal interactive behaviours and in some children's interactive behaviours and, in children's affects expression, in psychomotor development, no significant differences were found. About maternal irritability this variable seems to induce different effects upon the two samples. Maternal irritability correlates with some maternal interactive behaviours in dyads of natural environment origin, as also with some children's interactive behaviours and with children's affects (more sadness, fear, anger, bore, affliction and aggressive affect). In dyads of prison environment origin, maternal irritability correlates with other maternal interactive behaviours, other children's interactive behaviours, children's affects (more fear, aggressive affect and regression, and less affliction), and with less psychomotor development