O motor da humanidade : conhecimento e ação em Hobbes

Este trabalho propõe uma leitura que busca entender a teoria hobbesiana do desejo, base de sua teoria da ação humana, como inserida em um sistema filosófico que supõe uma teoria do conhecimento. Porque a ação é explicada pelo desejo, e este por uma sensibilidade redutível a movimentos mentais, a inteligibilidade da ação se torna tributária de uma ciência do ser humano que o insere em uma comunidade corpórea determinada pelo movimento – expressão do materialismo e naturalismo hobbesiano. Contudo, o conhecimento desses movimentos mentais (ou seja, das causas da ação) é produto de um método filosófico por meio do qual o ser humano é capaz de conhecer a si mesmo enquanto objeto de ciência, razão pela qual compreender a concepção hobbesiana de filosofia, bem como o método pelo qual ela seria possível segundo o autor, se torna fundamental para entender os conceitos envolvidos em uma teoria do desejo. O que emerge desta investigação é, por um lado, um conceito de desejo que fornece as bases para uma antropologia moral; contudo, na medida em que o fazer científico e as produções de razão próprias do ser humano dependem também dos chamados atos voluntários, também a própria racionalidade acaba por obter uma explicação pelo desejo.This paper offers an account that seeks to understand the Hobbesian theory of desire, which is the basis of his theory of human action, as part of a philosophical system that entails a theory of knowledge. Since action is explained by desire, and the latter by a sensibility that is really reducible to motions in the mind, the understanding of action turns to be dependent of a science of the human being which introduces it in a corporeal community determined by motion – which expresses Hobbesian distinctive materialism and naturalism. However, the knowledge of these mental motions (that is to say, of the causes of action) is the product of a philosophical method by which the human being is able to know herself as the object of a specific science, which turns to be the reason why understand the Hobbesian conception of philosophy, as well as the method by which it would be possible, becomes fundamental to the understanding of the concepts involved in a proper theory of desire. What emerges from this research is, on the one hand, a concept of desire that provides the basis for a moral anthropology. However, insofar as the whole idea of a scientific exercice, as well as the rational products that come from it depend on human voluntary acts, also rationality itself obtains an explanation through desire