O dispositivo da gentrificação: etnografia de uma intervenção do Estado em vilas de Belo Horizonte, MG.

This article presents questions regarding State intervention for the purpose of urbanization of favelas in Belo Horizonte, capital of Minas Gerais, Brazil. Based on the ethnography in the margins of the State, including participant observation in the locality and follow-up of public hearings as well as interlocutory meetings between the residents and the urbanizing company, some reflections on the government urbanization policy of favelas denominated Vila Viva are presented, especially concerning the articulation of diverse elements that end up constituting gentrification dispositive, against which the removed inhabitants have little chance of opposition. In this regard, the case of “carroceiros” will be highlighted as a paradigmatic of the government recognition’s lack in respect of the diverse uses of the territory by the affected people, including the cohabitation of non-human living, especially in the operationalized resettlement model.O artigo apresenta algumas questões referentes à intervenção do Estado para fins de urbanização e regularização fundiária no município de Belo Horizonte, MG. A partir da etnografia nas margens do Estado, realizada entre os anos de 2011 e 2014 e de estudos bibliográficos, apresentamos o contexto de intervenção do Estado para a realização de uma política pública (ou melhor, política governamental) de urbanização de vilas e favelas denominado Programa Vila Viva. Analisamos também os efeitos desta política governamental no que se refere à sua implementação em uma vila com forte diversidade sociocultural e heterogeneidade de usos do território. De modo que, por detrás de um discurso construído a partir de legalidades, positividades e melhorias sociais, o que percebemos através do olhar etnográfico e dos relatos dos atingidos é, também, o seu oposto, ou seja, a constante produção da violência estatal que solapa a heterogeneidade característica da própria ideia de urbanidade, objetivando impor um modelo único de ordenamento que viola os aspectos sociais e culturais, desrespeita as condições de convivência pré-existentes e acarreta impactos materiais e não materiais aos atingidos