A construção da ameaça iraniana na Arábia Saudita e no Bahrein : identidades e segurança

O presente trabalho analisa em quais contextos o regime iraniano estabelece relações de ameaça e insegurança com a Arábia Saudita e o Bahrein. Ambos os regimes árabes apresentam um histórico de relações contenciosas com o iraniano, marcado por desconfianças mútuas. Entretanto, contrariamente ao exposto por setores da mídia internacional, o seu tensionamento se dá em contextos específicos em que as dinastias dos dois reinos assumem uma visão negativa e marginalizada do regime iraniano e exacerbam suas diferenças, não devido a um essencialista “embate secular” entre xiitas e sunitas ou persas e árabes. A partir de uma perspectiva pósestruturalista e da análise de discursos e narrativas mobilizados pelas monarquias saudita e bahreinita, essa pesquisa argumenta que a construção do sujeito iraniano como uma ameaça ocorre por meio de fatores de diferentes ordens. No caso saudita, a família real al-Saud constrói o Irã a partir de uma insegurança de caráter ontológico e ideacional, a qual ameaça a sua manutenção e existência, o que que incorre em consequências nefastas para setores marginalizados e dissidentes nacionais. Para os al-Khalifa, os monarcas bahreinis, discursos de ameaça perante o Irã são constituídos a partir de pressões securitárias materiais, baseadas nas profundas relações étnicas, sociais, políticas e religiosas entre as duas sociedades e o constante espectro de uma reanexação da pequena ilha do Bahrein aos territórios iranianos, significando a desestruturação de seu Estado.This paper analyzes in which contexts the Iranian regime establishes threat and insecurity relations with Saudi Arabia and Bahrain. Both Arab regimes have a background of contentious relations with the Iranian one, stained by mutual mistrusts. However, as opposed to what is exposed by international press’ agencies, its hardening occurs in specific contexts where the dynasties of the two Kingdoms promote a negative and marginalized image of the Iranian regime and exacerbate their differences, not due to a “century-old” conflict between Shias and Sunnis or Persians and Arabs. Through a post-structuralist perspective and by analyzing discourses and narratives mobilized by the Saudi and Bahraini monarchies, this research posits that the threat construction of the Iranian subject happens through elements of different facets. In the Saudi case, the al-Saud royal family frames Iran from an ontological and ideational insecurity, which threatens its maintenance and existence, incurring in nefarious consequences for national marginalized and dissident groups. For the al-Khalifa, Bahrain’s monarchs, threat discourses about Iran are constituted from material security pressures based on the deep ethnic, social, political and religious relations between the two societies and the constant phantom that the fear of Iranian reannexation creates, meaning the disbandment of the Bahraini state