Pensar a Revolução Soviética no século XXI: Revolução e estratégias identitárias

A problemática das identidades sociais tem sido um dos principais veios dos estudos soviéticos e pós‑soviéticos, sobretudo desde os anos 90. Esses trabalhos contribuem para aprofundar a compreensão da Revolução Soviética, ao mesmo tempo que permitem uma articulação com a centralidade das questões identitárias no momento histórico presente. Retomando o espírito desses estudos, mas também de investigações que, entre nós, têm procurado desenvolver uma antropologia geral dos processos identitários, este artigo procura reanalisar a evolução do pensamento de Lénine e do regime bolchevique à luz da inserção identitária ambivalente da Rússia entre a Ásia e a Europa, entre o Oriente e o Ocidente. Para tal, recorre-se ao conceito de “identidade de fronteira”, utilizando-o para esclarecer as oscilações que caracterizaram as escolhas estratégicas dos comunistas russos no domínio da geopolítica.The problematics of social identities has been one of the main strands explored in Soviet and post-Soviet studies, above all after the 1990s. These studies have contributed to deepen an understanding of the Soviet Revolution, at the same time allowing for articulation within the centrality of identity issues in the current historical setting. Taking up the spirit of such studies, but also that of research in Portugal which has endeavoured to develop an overall anthropology of identity processes, this article sets out to re-analyse the evolution of Lenin’s thought and of that of the Bolshevist regime, in the light of Russia’s ambivalent identity stance between Asia and Europe, between East and West. To this end, the concept of “border identity” is applied to clarify the oscillations which characterise the strategic choices made by Russian communists in the geopolitical realm.La problématique des identités sociales a été l’une des principes voies des études soviétiques et post-soviétiques, surtout depuis les années 90. Ces travaux contribuent à approfondir la compréhension de la Révolution soviétique, en même temps qu’ils permettent une articulation avec la centralité des questions identitaires au moment historique présent. Tenant compte de l’esprit de ces études, mais aussi des recherches qui, entre nous, ont cherché à développer une anthropologie générale des processus identitaires, cet article tente de ré-analyser l’évolution de la pensée de Lénine et du régime bolchevique à la lumière de l’insertion identitaire ambivalente de la Russie entre l’Asie et l’Europe, entre l’Orient et l’Occident. Pour le faire, on recourra au concept d’ “identité de frontière” pour éclairer les oscillations qui ont caractérisé les choix stratégiques des communistes russes dans le domaine de la géopolitique