O Iraque baathista (1968-2003) : ascensão e queda de um projeto modernizador de estado

Este trabalho objetiva detalhar e contextualizar a ascensão e a queda do projeto modernizador estatal iraquiano sob o governo do Partido Baath (1968-2003). Defende-se, desta forma, que durante o recorte temporal apresentado, existia um conjunto de políticas e de planejamento econômico, centralizados no Estado, que buscaram independência e autonomia, por parte do Iraque, nos cenários regional e internacional. Argumenta-se que, nos anos 1970, uma conjuntura favorável colocou o Iraque em posição de dar início ao projeto industrial que pretendia alavancar o desenvolvimento do Estado, pelo menos no curto e médio prazo. As grandes arrecadações do governo iraquiano advindas do petróleo, o aumento das importações e o papel centralizador do Estado, mesmo em uma economia de característica mista, sinalizavam prosperidade, que, por sua vez, talvez tenha desvirtuado o projeto. A década de 1980, entretanto, foi marcada pela tendência contrária. O envolvimento iraquiano no conflito regional entre Irã-Iraque (1980-1988) e a queda de preços internacionais do petróleo, marcaram o início do declínio do projeto de desenvolvimento iraquiano. Durante os anos 1990, o Estado iraquiano, que buscava formas de lidar com os déficits econômicos da década anterior, envolveu-se em mais um conflito regional e assistiu ao encolhimento de seu Estado e ao fim do seu projeto modernizador. A dívida externa exorbitante, a infra-estrutura básica em ruínas, o estopim de insurgências internas fortemente reprimidas, a pressão externa sob a forma de imposições de sanções e a deterioração crescente dos níveis de vida da população iraquiana deram o tom para o fim do Iraque Baathista, em 2003, com a queda de Saddam Hussein da presidência (1979-2003) como conseqüência direta da invasão norte-americana alicerçada nos princípios da “Guerra ao Terror”.This paper aims to detail and contextualize the rise and fall of the Iraqi state modernizing project under the Baath Party government (1968-2003). It is argued that during the timeline presented there was a set of policies and economic planning, centralized in the State, that sought independence and autonomy, on the part of Iraq, in the regional and international scenarios. It is argued that, in the 1970s, a favorable situation put Iraq in a position to initiate the industrial project that sought to leverage the development of the state, at least in the short and medium term. The Iraqi government's large revenues from oil, increased imports and the centralizing role of the state, even in a mixed economy, signaled prosperity, which in turn may have misrepresented the project. The 1980s, however, were marked by the opposite trend. The Iraqi involvement in the regional conflict between Iran and Iraq (1980-1988) and the fall in international oil prices marked the beginning of the decline of the Iraqi development project. During the 1990s, the Iraqi state, which sought ways to deal with the economic deficits of the previous decade, became embroiled in yet another regional conflict and witnessed the shrinking of its State and the end of its modernizing project. Exorbitant external debt, basic infrastructure in ruins, the pitfall of heavily repressed internal insurgencies, external pressure in the form of impositions of sanctions, and the deteriorating living standards of the Iraqi population set the tone for the end of Iraq Baathist in 2003, with Saddam Hussein's fall from office (1979-2003) as a direct consequence of the US-led invasion of the "War on Terror" principles