Universitários com dificuldade de leitura e escrita: desvelando discursos

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Florianópolis, 2018.Introdução: A última década foi marcada por mudanças na Educação Superior. Se antes havia apenas uma minoria que conseguia adentrar nesse nível de ensino, agora há um contingente de estudantes, com trajetórias educacionais e condições socioeconômicas distintas, o que modificou o perfil das Universidades. A partir disso, observam-se dificuldades que até pouco tempo não haviam sido notadas. Meus questionamentos me levaram a procurar respostas e ir ao encontro da teoria na Sociologia da Educação e nos estudos enunciativos-discursivos sob um viés bakhtiniano. Objetivo: Compreender o discurso de três estudantes universitários sobre suas trajetórias educacionais e dificuldades com a leitura e a escrita. Metodologia: Os materiais geradores dos dados incluíram entrevistas (gravadas e transcritas). Resultados: Aparentemente, a escrita ocupa um lugar secundário, pouco atrativo, às práticas vivenciadas pelos estudantes. As práticas de leitura e escrita nas famílias foram construídas e constituídas de formas distintas: através da valorização, do incentivo (capital simbólico), do investimento com a compra de livros; mas também foram restritas: somente materiais de cunho religioso e educacional; apenas práticas de leitura e não de escrita. Os discursos dos estudantes revelam que a escola também não lhes foi significativa para inseri-los em novas práticas. O que se evidencia a partir das análises do discurso desses estudantes é que suas trajetórias educacionais, sociais e econômicas são marcadas pela desigualdade e, tanto a escola quanto a Universidade reproduzem essas estruturas sociais excludentes, ao passo que a proposta é ainda de reprodução. Nesse sentido, excluem-se os incluídos. Conclusão: Esses resultados também demonstram que há outras dificuldades que o INAF e o ILC não mencionam. Isso significa que os universitários saem da escola com defasagem quanto aos conteúdos curriculares e que irão ingressar nesse campo/esfera também para incorporar/aprender esses conhecimentos. As dificuldades de leitura e escrita em universitários, dessa forma, refletem e refratam essa desigualdade estrutural que os excluem dentro das instituições de ensino que dizem ser inclusivas . Seus discursos só marcam sua posição social enquanto sujeitos sócio-historicamente construídos e constituídos na interação com o Outro e com as estruturas sociais.Abstract : Introduction: The last decade was marked by changes in Higher Education. If before there was only a minority that was able to enter this level of education, there are now a contingent of students, with educational trajectories and distinct socioeconomic conditions, which changed the profile of universities. From this, difficulties are observed that until recently had not been noticed. My questions led me to find out answers and to meet the theory in the Sociology of Education and enunciative-discursive studies under a Bakhtinian bias. Objective: To understand the discourse of three university students about their educational trajectories and difficulties with reading and writing. Methodology: Data-generating materials included interviews (recorded and transcribed). Results: Apparently, writing occupies a secondary place, unattractive, to the practices experienced by the students. The practices of reading and writing in families were constructed and constituted in different ways: through valuation, incentive (symbolic capital), investment with the purchase of books; but were also restricted: only religious and educational materials; only reading and non-writing practices. The students' speeches reveal that the school was not significant enough to insert them into new practices. What is evident from the discourse analysis of these students is that their educational, social and economic trajectories are marked by inequality and both the school and the university reproduce these excluding social structures, while the proposal is still of reproduction. In this sense, those included are excluded. Conclusion: These results also demonstrate that there are other difficulties that INAF and ILC do not mention. This means that university students leave school with a lag in terms of curricular content and that they will also enter this field/sphere to incorporate/learn this knowledge. The difficulties of reading and writing in university students, thus, reflect and refract this structural inequality that exclude them within educational institutions that claim to be \"inclusive\". Their discourses only mark their social position as socio-historically constructed and constituted individuals in the interaction with the Other and with social structures