Qualidade de vida e ansiedade no contexto da oncologia pediátrica : o papel dos rituais, coesão e esperança

Tese de mestrado, Psicologia (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde, Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2018A crescente taxa de sobrevivência mudou a perspetiva sobre o cancro, de doença mortal para uma doença crónica. As famílias e pacientes precisam mais do que nunca de intervenções focadas na promoção da qualidade de vida, e que atuem em vários níveis sistémicos, fora do contexto estrito do tratamento oncológico e da perturbação psicológica. Este estudo examinou a relação entre o contexto familiar e a adaptação ao cancro pediátrico. Numa amostra de 90 crianças e adolescentes com cancro (idades entre 7 e 20 anos) foram aplicados os instrumentos Family Ritual Questionnaire, Family Environment Scale, Children’s Hope Scale, Revised Children Manifest Anxiety Scale e Pediatric Quality of Life Inventory, para avaliar a perceção do significado dos rituais familiares, da coesão familiar, ansiedade, esperança, e qualidade de vida. Este estudo pretendeu analisar se estas variáveis variavam de acordo com o nível socioeconómico e situação profissional dos cuidadores. Os resultados suportaram a ideia de que a perceção de rituais estava correlacionada com a coesão familiar. A coesão estava correlacionada com níveis mais elevados de esperança e mais reduzidos de ansiedade, que por sua vez se associam a maior qualidade de vida, um importante marcador de adaptação na doença pediátrica. O nível socioeconómico não se relacionou nenhum construto avaliado, mas as crianças cujos cuidadores não estavam empregados reportaram menor qualidade de vida. Os resultados vão de encontro à literatura, e parecem reforçar a ideia de que a qualidade de vida se associa à coesão familiar e esperança, tornando vantajosas intervenções que atuem a nível destas dimensões familiares e individuais.Growing survival rates have shifted the view on cancer, from a mortal disease to a chronic condition. More than ever before, patients and their families need interventions focused on the improvement of quality of life and acting upon various systemic levels, outside the strict context of oncological treatment and psychopathology. This study focused on the relationship between family context and adaptation to pediatric cancer. On a sample of 90 children and adolescents (ages between 7 and 20) were applied the Family Ritual Questionnaire, Family Environment Scale, Children Hope Scale, Revised Children Manifest Anxiety Scale e Pediatric Quality of Life Inventory, to assess the meaning of family rituals, family cohesion, anxiety, hope and quality of life. The study also attempts to find an association between family socioeconomical level and caretaker employment status on the other variables. Results support the preexisting literature pertaining to the association between family ritual meaning and family cohesion. Cohesion correlated with higher levels of hope and with lower levels of anxiety, which in turn were correlated to higher quality of life, an important marker of adaptation in pediatric illness. Socioeconomic status showed no relation with other variables, although children of currently unemployed caretakers reported less quality of life. Results seem to match the literature that finds an association between improved quality of life and family rituals through the promotion of family cohesion and hope and restate the advantages of individual and family interventions on these domains