Perceções e vivências de pessoas em situação de desemprego de longa duração: conhecer para intervir

O desemprego de longa duração é um problema estrutural na sociedade portuguesa atual, que merece uma especial preocupação por parte dos/as técnicos/as de Intervenção Comunitária, já que tem uma abrangência e extensão muito mais significativa do que o retrato estatístico demonstra e porque arrasta inúmeras fragilidades e vulnerabilidades humanas. O desemprego de longa duração é um fenómeno social multidimensional, contudo, tem vindo a ser analisado, essencialmente, numa perspetiva quantitativa, simplista e redutora, que estigmatiza e culpabiliza as pessoas pela situação frágil em que se encontram. Acreditamos que está na altura de resgatar o indivíduo e de o invocar e, por isso, o que se pretendeu com a Investigação, foi salientar a importância (e urgência) de uma viragem de paradigma. Ou seja, para compreender a complexidade deste fenómeno é necessário, primeiro, ancorar à análise meramente estatística, estudos sob a alçada qualitativa, focados na forma como os sujeitos vivem, sentem, reagem e interpretam o desemprego de longa duração. Ao enfatizar as pessoas enquanto protagonistas da pesquisa, valorizamos as suas histórias de vida e damos-lhes ‘voz’. Em segundo lugar, enfatizando a dimensão subjetiva do fenómeno, depreendemos que há explicações macrossociais e conjunturais do desemprego, para além dos estereótipos responsabilizadores das pessoas pela sua situação. A Investigação parte de entrevistas realizadas a 10 pessoas, e privilegia a análise e interpretação das perceções e vivências do desemprego, sob o olhar dos atores. Este Trabalho visou uma abordagem do desemprego enquanto experiência social complexa e multidimensional, para que, desta forma, a partir da resposta à pergunta de partida: Quais os motivos que contribuem para a permanência das pessoas na situação de desemprego?, pudesse constituir-se um instrumento útil e prático de atenuação/ combate/ desconstrução das representações negativas face às pessoas desempregadas a longo prazo. Perante o desemprego, a Intervenção Comunitária tem o papel de aproximar-se das pessoas que o enfrentam; colocar-se mais no seu lugar; inteirar-se das suas vivências; perceber os sentimentos que as movem; compreender as dificuldades que sentem e como lutam para escapar deste ‘círculo vicioso’. Desta forma, pretende-se tecer um olhar mais humano e compreensivo perante as suas vidas de exclusão e devolver-lhes uma dignidade (não raramente) perdida, fruto das consequências dramáticas do desemprego. Assim, compreendendo os contornos sociais menos visíveis do fenómeno e os motivos que ajudam a explicar a manutenção deste persistente problema social, a sociedade e os/as técnicos/as estarão mais preparados/as para uma Intervenção Comunitária menos culpabilizante das pessoas pelo desemprego. Urge uma intervenção mais adequada e personalizada à realidade do desemprego e às idiossincrasias das pessoas, mais integradora, compreensiva e justa, no fundo, mais eficazLong-term unemployment is a structural problem in the current Portuguese society, which deserves a special concern on the part of the Community Intervention technicians, since it has a much more extensive scope and extension than the statistical portrait demonstrates and because it drags innumerable weaknesses and human vulnerabilities. Long-term unemployment is a multidimensional social phenomenon, however, it has essentially been analyzed in a quantitative, simplistic and reductive perspective, which stigmatizes and blames people for the fragile situation in which they find themselves. We believe that it is time to rescue the individual and to invoke him and, therefore, what was intended with the Investigation, was to emphasize the importance (and urgency) of a paradigm shift. In other words, in order to understand the complexity of this phenomenon, it is necessary first to anchor to the purely statistical analysis, qualitative studies, focused on how subjects live, feel, react and interpret long-term unemployment. By emphasizing people as protagonists of the research, we value their life stories and give them 'voice'. Second, emphasizing the subjective dimension of the phenomenon, we can deduce that there are macrossocial and conjunctural explanations of unemployment, in addition to the stereotypes that are responsible for people for their situation. The research is based on interviews with 10 people, and privileges the analysis and interpretation of perceptions and experiences of unemployment, under the eyes of the actors. This paper aimed at an approach to unemployment as a complex and multidimensional social experience, so that, starting from the answer to the question: What are the reasons that contribute to the permanence of people in the situation of unemployment ?, could constitute a useful and practical tool for mitigating / combating / deconstructing negative representations towards the long-term unemployed. In the face of unemployment, Community Intervention has the role of approaching the people who face it; put yourself more in your place; get acquainted with their experiences; perceive the feelings that move them; understand the difficulties they feel and how they struggle to escape from this 'vicious circle'. In this way, it is intended to weave a more humane and understanding look at their lives of exclusion and restore them to a (not rarely) lost dignity, resulting from the dramatic consequences of unemployment. Thus, understanding the less visible social outlines of the phenomenon and the motives that help explain the persistence of this persistent social problem, society and technicians will be more prepared for a Community Intervention less blaming people for unemployment. There is a need for a more adequate and personalized intervention to the reality of unemployment and the idiosyncrasies of people, more inclusive, understanding and just, more effective Keywords: Long-term unemployment; Multidimensionality; Deconstruction of stereotypes; Appreciation of people; Community Intervention