A música para piano: reflexões sobre as obras e a escrita instrumental

No extenso catálogo de obras musicais de Christopher Bochmann, o piano (enquanto instrumento solista) assume um papel de destaque. Para além disso, tem uma presença assídua nas obras para diferentes conjuntos instrumentais e de música de câmara do compositor. Este importante conjunto foi composto entre o final dos anos 60 e o presente, verificando-se, ao longo do tempo, um acréscimo da produtividade do compositor neste domínio. Procurando definir as principais tendências estéticas subjacentes ao corpus em questão, bem como caracterizar o idioma pianístico de Christopher Bochmann, prescrutaram-se as obras para piano solo e para dois pianos. Concluiu-se que as origens desse idioma pianístico assentam numa técnica instrumental convencional, herdada da tradição pianística oitocentista. A permeabilidade a uma sensibilidade neoclássica, estimulada provavelmente pelo contacto com Nadia Boulanger nos anos de formação, mantém-se ao longo dos anos e manifesta-se pontualmente, tanto no recurso a técnicas, géneros e formas do passado, como também, de maneira mais abrangente, numa constante busca de equilíbrio e proporcionalidade, transversal a todas as obras. Salienta-se a forte influência das principais correntes estilísticas europeias da segunda metade do séc. XX, tanto dos autores associados ao pós-serialismo como dos compositores e obras da 2ª Escola de Viena. As experiências no domínio do aleatorismo têm uma representatividade restrita mas significativa no conjunto das obras analisadas, assim como um certo grau de experimentalismo a nível de efeitos não convencionais. Verifica-se uma notável consistência, patente na trama de relações que se pode estabelecer entre parâmetros bem definidos da escrita pianística e as obras de diferentes períodos cronológicos em que eles surgem