Osteonecrose em mandíbula associada ao uso intravítreo de bevacizumab : relato de caso

Bevacizumab é um anticorpo utilizado como terapia alvo molecular para o tratamento de uma variedade de doenças malignas avançadas. Devido ao seu potente efeito anti-angiogênico, ele também tem sido utilizado de forma empírica na oftalmologia para tratamento de retinopatias. Alguns efeitos adversos de sua utilização intravítrea, tanto locais como sistêmicos, foram relatados, incluindo hemorragia subconjuntival e aumento da pressão arterial. Recentemente, foram relatados alguns casos de osteonecrose da mandíbula (ONM) associada com o uso intravenoso do bevacizumab durante tratamento oncológico. Entretanto, até o momento, nenhum caso de ONM associada com a administração intravítrea do bevacizumab foi descrito na literatura, de modo que nos propomos a apresentar o primeiro caso desta possível associação. Um homem de 58 anos de idade compareceu à Clinica de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (OROCENTRO) queixando-se de uma lesão sintomática no lado esquerdo da mandíbula associada à exposição óssea e presente há cerca de 1 mês. Em sua história médica, relatou o tratamento de uma trombose vascular de retina por meio do uso de bevacizumab 2,5 mg (administração intravítrea), durante os últimos 2 anos. Como tratamento para a exposição óssea, foi realizada curetagem sob anestesia local e o material foi encaminhado para análise histológica. O exame histológico mostrou um fragmento ósseo com ausência de vitalidade e diagnóstico estabelecido com base na associação clínico-patológica foi de ONM associada com o tratamento intravitreo do bevacizumab. O tratamento cirúrgico conservador foi bem sucedido e após 6 meses de acompanhamento clínico o paciente apresentava-se bem, sem sinais de recidiva. Sabe-se que a administração intravítrea empírica do bevacizumab tem se tornado prática cada vez mais comum na oftalmologia e que este medicamento pode atingir a circulação sanguínea após uso intravítreo. Portanto, profissionais da saúde devem estar atentos para o fato de que o uso de bevacizumab, mesmo na forma intravítrea, representa um novo fator de risco para a ONM.Bevacizumab is an antibody used as a molecular target therapy to the treatment of a myriad of advanced malignancies. Due to its potent antiangiogenic effect, it has been used as an off-label medicine for the treatment of retina disorders. Local and systemic adverse effects after intravitreal administration have been described and consist of local ocular events such as subconjuctival hemorrhage and systemic effects such as increased blood pressure. Recently, cases of osteonecrosis of the jaw (ONJ) related to chemotherapy using bevacizumab have been described. However, no cases of ONJ after intravitreal administration of bevacizumab have been reported in the literature, thus, the first case of ONJ occurring after intravitreal bevacizumab therapy is presented. A 58-year-old man presented to the Oral Medicine Clinic (OROCENTRO), Piracicaba Dental School, complaining of a painful lesion in his left lingual surface of the mandible for about 1 month. The patient reported a history of retinal vascular thrombosis, treated with bevacizumab 2,5 mg (intravitreal administration) for 2 years. Bone curettage was performed under local anesthesia as treatment and the material was referred for histologic analysis. Histologic examination of the specimen showed necrotic bone and the diagnosis was established as ONJ possibly associated with bevacizumab. After 6 months of follow-up, the patient was stable and did not present sings of recurrence. Bevacizumab has been widely used off-label in ophthalmologya and it is able to reach the systemic circulation even after after intravitreal administration. Thus, health-related professionals should be aware of the fact that intravitreous bevacizumab represent a new risk factor for ONJ