Múltiplas linguagens - caminhos alternativos à alfabetização

io em escrever meu memorial de graduação envolvendo histórias pessoais e profissionais de forma que estas se entrecortassem e me descrevessem como um sujeito em mudança chegou a percorrer diferentes caminhos infrutíferos. Primeiro pensei em recorrer à cronologia de minha vida para nela inserir o percurso da educadora que se inseria nos recortes das histórias, porém percebi que corria o risco de tornar-me extensa demais e, por que não, incompreensível aos olhos daqueles que não se interessassem por uma história de vida um tanto parecida com muitas outras. A segunda opção foi eleger um fato significativo da minha escolarização e dialogar com ele, integrando de forma (inter) ativa a vida pessoal e profissional, da mesma forma que sentia necessidade de ligar minha vivência enquanto aluna/criança alfabetizada em casa por meios não convencionais com as dificuldades encontradas (por mim e por tantas outras crianças) na alfabetização ambientada na escola e amparada em métodos e técnicas que não atendem aos anseios tanto dos alunos quanto dos professores. Cabe nesse espaço colocar minha história de alfabetização, lá em torno dos quatro anos, quando me divertia com as personagens da Vila Sésamo e criava com eles as minhas histórias, fantasias de criança, mas que ali já se mostravam uma forma de ver e criar o mundo, de exercitar o faz-de-conta, situação prazerosa que hoje vemos um pouco distante das salas de aula. As primeiras letras aprendi a partir dos nomes das personagens e das perguntas insistentes que fazia aos adultos a minha volta, queria saber como escrevia tudo, para poder dar vida às minhas histórias e a mim junto àquilo que inventava. Sim, eu era parte da história, não apenas escritora, vivia na Vila Sésamo da minha imaginação. Quando entrei na escola já conhecia o mundo letrado e a alegria de contar histórias, de participar delas e dar vida às personagens, porém o que encontrei na negritude do quadro negro foi uma escrita sem vida, coisas que não me interessavam, não divertiam, a válvula de escape era, ao chegar em casa, entregar-me à vida das minhas personagens. Repensando minha trajetória me vi envolvida com as dificuldades de muitas outras crianças e com a própria função social atribuída à escola que é a de ensinar a ler e escrever. São cobranças para ambas as partes sem muito esclarecimento sobre as limitações de cada uma. Nunes (2000, p. 7) afirma que quando uma criança ingressa na escola, sua primeira tarefa explícita é aprender a ler e escrever. Embora se espere que a criança aprenda muitas outras coisas em seu primeiro ano de escola..., essa não era a minha preocupação, mas hoje como professora alfabetizadora não posso deixar de concordar com a posição da autora e assumir que a alfabetização é, sem dúvida alguma, o centro das expectativas de pais e professores e que somos muito cobrados para que ocorra seja de qual forma for. Foi exatamente essa obrigatoriedade que me fez enveredar, na escrita desse memorial, pela discussão de pontos que considero importantes antes de iniciar o processo formal de alfabetização, aquele ambientado na sala de aula que, muitas vezes, não considera as vivências das crianças e, talvez por isto, se veja prejudicado. A estruturação deste trabalho se funda no trabalho cotidiano desenvolvidos pelos alunos e mediados pela professora tanto em sala de aula como fora dela, enfatizando situações de exposição de idéias, de argumentação, registros individuais e coletivos em escrita e/ou desenho desenvolvidos em situações de letramento planejados pela professora no intuito de aferir a potencialidade do trabalho com o método discursivo de leitura/escrita e, a partir dele, possibilitar a criança situações que subsidiassem a incursão pelo universo da linguagem. A partir de agora passarei a narrar minhas considerações no plural, pois acredito que este trabalho foi construído a muitas vozes, dos autores com os quais dialoguei, as dos professores que fizeram parte de minha formação desde a educação infantil até agora no ensino superior; as das minhas reflexões enquanto criança que não compreendia a ausência do faz-de-conta na alfabetização da escola, as das crianças que até hoje alfabetizei e daquelas que não consegui alfabetizar, enfim às múltiplas vozes que proporcionaram uma tecitura de pensamentos que se fazem presentes nesse trabalho que, costurados, representam um relato da minha vida