Ação, história e memórias na educação de jovens e adultos

aos bancos escolares e escrever nossas memórias, nossas histórias, não é fácil, principalmente a partir do momento que sabemos que isso será lido e avaliado por um leitor que não nos conhece. Enfim, temos que escrever para quem quer que seja. O ato de escrever nos impulsiona a resgatar tantas coisas que estavam escondidas, que foram muitas vezes guardadas por vontade própria e agora têm que vir à tona. Isso faz com que busquemos mais ainda nos armar para possíveis diálogos, sobre o texto. Nesta busca em que procuro ver-me como aluna e professora em formação e em exercício, sinto que as duas imbricam-se, embora exista uma dicotomia neste imbricamento. Essa experiência faz-me reavaliar o que fui, o que sou e para onde vou nesta minha trajetória de vida pessoal e profissional. Ao reinterpretar minha trajetória de vida percebo que esta está seriamente ligada a Educação de Jovens e Adultos (EJA) que foi uma das experiências mais significativas de minha vida. A complexidade do projeto, seu alcance, minha atuação e reflexão sobre todo este processo fizeram de mim o que sou hoje. A educação popular, como uma concepção geral da educação, via de regra, opõe-se à educação de adultos impulsionada pela educação estatal, e tem ocupado os espaços que a educação de adultos oficial não levou muito a sério. A EJA neste país está fortemente ligada a organizações não governamentais, partidos políticos, igrejas etc, geralmente situadas em locais onde o Estado omitiu-se, e muitas vezes organizadas em oposição à educação de adultos oficial. Em minha atuação sinto, uma desproporção entre a educação que acredito e a que trabalhei enquanto educadora do Centro Educacional Maria Vicençotti pois neste programa não percebia a conscientização pela alfabetização que Paulo Freire tanto defendeu em suas teses. Os sujeitos que buscam a educação de jovens e adultos lutam para superar suas condições precárias de vida (moradia, saúde, alimentação, transporte, emprego etc), as decepções que sofreram na vida, a falta de oportunidades de estudar quando eram pequenos etc, que estão na raiz do problema do analfabetismo. O desemprego, os baixos salários e as péssimas condições de vida comprometem o processo de alfabetização dos jovens e adultos. Cabe ao educador conhecer as condições de vida dos alfabetizandos, sejam elas objetivas, como o salário, o emprego, a moradia, sejam as condições subjetivas, como a história de cada grupo, suas lutas, organização, conhecimento, habilidades, ou seja, sua cultura. No entanto, este conhecer deve se dar na convivência com ele e não apenas teoricamente. Um programa de EJA, por essa razão, não pode ser avaliado apenas pelo seu rigor metodológico, mas pelo impacto gerado na qualidade de vida da população atingida, a educação de adultos está condicionada às possibilidades de uma transformação real das condições de vida do aluno-trabalhador.O analfabetismo não é uma doença ou erva daninha, mas a negação de um direito ao lado da negação de outros direitos. O analfabetismo não é uma questão pedagógica, mas uma questão essencialmente política. Por tudo isso, pretendo neste memorial discutir um pouco as premissas apontadas sobre a Educação de Jovens e Adultos, buscando evidenciar um pouco do que seja esta problemática em nosso país, a questão da formação dos educadores e das práticas que a norteiam, relacionando estas questões à minha história de vida e de formação, pois uma está incluída na outra. A primeira impressão que este texto causará ao leitor é que falo puramente de minha vida particular e profissional, visto que no primeiro capítulo relato fatos que ocorreram em minha vida pessoal. Caminhos que se entrecruzaram e mostraram que a minha opção de vida não poderia ser outra que não fosse a educação. No segundo capítulo segue um pouco da história da Educação de Jovens e Adultos, pois tudo na vida é registrado, experimentado e transformado e a EJA não foge a essa regra. Nesta busca historicizo a quebra dos paradigmas que nos fazem pensar e agir diferente em nossas salas na atualidade. E, finalmente, no terceiro capítulo, a volta aos bancos escolares, agora universitários. Num mundo em que existe uma dicotomia entre a tecnologia avançada da modernidade e as escolas paradas no tempo, será a equipe que as compõem que farão a mudanças necessárias para a reorganização das práticas educacionais. E sem uma formação adequada isso não se torna possível. Portanto, os embasamentos teóricos conseguidos nas universidades, aliados a prática diária farão todo o diferencial nesta nova empreitada e a formação oferecida pelo curso de Pedagogia da Unicamp prima por nos levar a estas mudanças de posturas. Enfim, concluo este trabalho com as considerações que refleti durante o curso e a realização deste trabalho de pesquisa, que tem o EJA como eixo temático