Inquietações e novas ações nas práticas educativas

morial tem como objetivo traçar uma trajetória da minha formação pedagógica, como discente/docente, além de apresentar os marcos que nela identifico, partindo da mais tenra infância e chegando a maturidade de hoje. Relembrar os caminhos da minha vivência escolar, neste momento permitiu-me realizar uma análise crítica da minha experiência como aluna/professora e da minha atual prática pedagógica. Como aluna oriunda de escola privada, pertencente à classe média, fui privilegiada por ter uma experiência diferenciada da maioria das pessoas, especialmente as da minha faixa etária. Tive a oportunidade de estudar em uma escola de metodologia montessoriana e construtivista, em contraposição a um modelo vigente de metodologia tradicional utilizado na maioria das escolas na época. Considero este, o primeiro marco diferencial na minha formação. Partindo de uma trajetória educacional mediada por escolas privadas, posso recordar ter experimentado viver uma relação salutar com diversos professores, que puderam contribuir positivamente na minha formação. Professores, que dentro de suas limitações e possibilidades, souberam respeitar a individualidade dos educandos e o ritmo de aprendizado de cada um. Além da relação positiva aluno/professor, recordo com satisfação da dinâmica da sala, da disposição dos móveis e carteiras, das cotas de atividades a serem cumpridas semanalmente (porém, sem uma cobrança demasiada), a utilização de diversificado material didático-pedagógico, tudo, que muito contribuiu para a formação da minha personalidade, legando valores que considero fundamentais na construção dos meus princípios morais de hoje. Já quanto à formação por mim obtida na Unicamp, neste cenário atual, posso dizer que me conduziu especialmente a embates no universo onde atuo como docente. Levou-me a questionar se de fato, na minha prática profissional, estou mais para agente de mudança ou para perpetuadora de um sistema que atende às demandas de um capitalismo selvagem, cruel e opressor. Os estudos realizados neste curso foram relevantemente positivos, na medida que propiciaram um maior conhecimento, no que diz respeito aos principais pensamentos de filósofos e teóricos da educação, e uma conseqüente reflexão profunda e aguçada sobre o universo educacional, permitindo dessa forma, um olhar mais crítico acerca da realidade que estou inserida. Hoje, estou me perguntando se tenho, de fato, contribuindo para a formação de indivíduos alienados ou de cidadãos críticos na busca do exercício pleno da cidadania, que entendo como uma ação protagonista ativa, ao invés de passiva; se estou contribuindo para outorgar valores morais na formação de uma sociedade mais transparente, ética e justa, onde os índices de desigualdades sociais, ainda que não sejam nulos, sejam minimamente reduzidos? Posso perceber como docente, no momento presente, que vivo a contradição de um sistema educacional. O que vejo atualmente nas práticas escolares, à luz das inúmeras reflexões realizadas e compartilhadas neste ambiente acadêmico, me possibilitaram vivenciar, perceber, o outro lado da educação: a visão do oprimido, na linguagem de Paulo Freire (FREIRE, 1971). Portanto, este embate de conflitos aguçou-se nestes últimos três anos da minha formação como pedagoga na Unicamp. Todavia, foi possível unir elementos vivenciados no passado e no presente, tanto como discente quanto docente, para angariar ferramentas capazes de argumentar e ir de encontro ao sistema vigente. Quando me refiro ao sistema vigente, quero tratar da ideologia neoliberal que reduz o indivíduo a uma mercadoria, que o aliena, legando-o a um nível de estratificação social dentro de uma pirâmide onde a base é o seu campo de ação (OLIVEIRA, 2005, p.83). Nesta lacuna notada entre o ideal - o que desejo, e o real - o que de fato vivencio nas escolas, encontrei nas palavras de Freire (1971) o explícito jogo da formação x informação. E aqui entendo formação como uma explicitação de uma relação saudável, próxima, afetiva, e por que não dizer, igual, entre aluno-professor, ao invés de um distanciamento, de uma relação onde o detentor do saber se coloca num patamar acima desse aluno, cristalizando aquilo que já é comum no mercado de trabalho; uma relação em que o saber pertence apenas a um pólo desta relação, que a transmite a seu modo, como uma imposição de poder e abuso do mesmo sobre o oprimido. Entendo que esta relação tem um papel singular e fundamental, pois é por meio da ação do docente que o aluno tem a possibilidade e a liberdade de pensar e agir, isentando-se desse sistema opressor