O Atlântico magrebino no final da Idade Média: Palco por excelência do terror medieval ou ponto de partida de uma nova era…

A relação entre a herança do imaginário medieval e da Antiguidade e a nova forma de ver e conceber o mundo, característica do Renascimento, no processo de conquista do Atlântico magrebino – primeira grande fase da expansão marítima lusa. Noutra perspectiva, a relação entre a mirabilia , nas suas mais diversas facetas, e os elementos inovadores que marcam o desenvolvimento dos Descobrimentos portugueses e fazem realmente a diferença em relação a tudo o que se tinha tentado até aí, nomeadamente a preponderância da experiência, da observação e da investigação. Manifestações concretas desta complexa relação e estreita vivência são, por exemplo, a forma de perspectivar as ilhas atlânticas no século XV, a visão de Zurara e o comportamento dos roteiristas, que, embora modernos na experimentação, eram por vezes ainda medievais no pensamento. Geograficamente tão perto, mas em termos das mentalidades ainda tão longe pelo receio que provocavam, as costas do Magrebe foram palco privilegiado de um fenómeno físico – o ultrapassar dos obstáculos reais – e, ao mesmo tempo, mental – a resistência tenaz de um património ancestral no que toca ao imaginário que, nunca sendo vencido e apagado, acabou por coexistir e conviver com a realidade inequívoca proporcionada pela experimentação quotidiana