Construção das identidades profissionais dos técnicos que trabalham em instituições que acolhem crianças e jovens provenientes de famílias multiproblemáticas

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Sociologia, na área de especialização de Comunidades e Dinâmicas SociaisO foco principal deste estudo são as identidades profissionais dos técnicos que intervêm junto de crianças e jovens acolhidos em instituição provenientes de famílias multiproblemáticas. Pretende-se, portanto, perceber como é que através desta função, tendo em conta, a formação académica de cada técnico (Psicologia, Serviço Social, Educação Social, Educação de Infância), se constrói a identidade profissional e a partir daqui perceber como é que as múltiplas identidades (pessoal, social e profissional) se mobilizam em situação de trabalho; quais as expectativas/representações dos técnicos relativamente ao seu trabalho de intervenção; compreender de que forma os técnicos gerem situações em que os resultados pretendidos não são concretizados; perceber como gerem as suas próprias emoções. A fundamentação teórica relativamente à identidade profissional apoia-se nas obras de Claude Dubar e Ana Maria Silva. Dubar defende a ideia de que a identidade profissional é uma construção que se vai completando ao longo da vida, tal como as identidades pessoal e social. Segundo o mesmo autor existem três elementos que definem a identidade profissional: “o mundo vivido do trabalho”, a trajetória socioprofissional e os movimentos de emprego e, a formação (Dubar 1997, 185). Por sua vez, Ana Maria Silva afirma que existe uma relação entre formação e construção de identidades:“Formação e identidade aparecem como dois movimentos contemporâneos e intrínsecos um ao outro, emergindo como significativos das subjetividades (inter) atuantes; interdependentes um do outro são dinâmicos como o processo permanente de autocriação dos indivíduos nos espaços-tempos da sua biografia, designadamente de formação e profissional (…)” (Silva 2005, 17). Contudo, a revisão bibliográfica engloba também uma abordagem à formação profissional, ao percurso profissional, à experiência, mas também e, em forma de contextualização, uma passagem pelas famílias problemáticas e características do acolhimento em instituição em Portugal. A metodologia é de carácter qualitativo e a recolha de informação para a análise das identidades profissionais consiste na aplicação da técnica da entrevista semiestruturada e para a sua análise a técnica da análise de conteúdo. A amostra, por sua vez, não tendo como objetivo a generalização, é composta por 24 entrevistados (técnicos que trabalham nos Lares de Infância e Juventude (LIJ) e Centros de Acolhimento e Observação Temporária (CAOT) da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML)): 6 psicólogos, 6 assistentes sociais, 6 educadores sociais e 6 educadores de infância, em que 12 técnicos têm mais de 10 anos de experiência e os restantes 12 têm menos de 9 anos de experiência na área do acolhimento. Os resultados mostram que o contributo desta etapa do percurso profissional de cada técnico, na área do acolhimento institucional, para as identidades profissionais dos mesmos deve-se à conjugação das experiências vividas nesta fase e de todas as aprendizagens que esta função de intervenção tem proporcionado. Este estudo contribui para uma análise da construção das identidades profissionais de técnicos que trabalham em instituições de acolhimento de menores. É uma forma de realçar a pertinência de todos os elementos que compõem a identidade profissional (formação, percurso socioprofissional, experiência e competências) no desempenho da função de intervir junto de crianças e jovens provenientes de famílias multiproblemáticas