Parentalidade, auto-estima e auto-eficácia: a situação de doença crónica de um filho

Tese de Doutoramento, Psicologia na especialidade de Psicologia da Saúde, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, 2010Procurando manter uma perspectiva humanista sobre os constructos em estudo, a presente investigação pretende analisar em que medida o facto de existir na família, uma criança com diabetes, afecta a auto-estima e a auto-eficácia parental dos pais e se essa influência se associa ao nível de apoio activo na doença. Para tal, reuniu-se uma amostra de 244 mães e pais, de crianças entre os 4 e os 14 anos, divididos em dois grupos (pais de crianças diabéticas e pais de crianças sem doença crónica), que foram comparados relativamente à auto-estima e à auto-eficácia parental. Os pais com filhos diabéticos responderam ainda à medida de apoio activo na doença. Metodologicamente, os objectivos implicaram o desenvolvimento e validação de uma Escala de Auto-Eficácia Parental, numa amostra de 312 progenitores de ambos os sexos cujos resultados, em termos de validade factorial e consistência interna garantem a adequação do instrumento. Procedeu-se também à adaptação para a língua portuguesa da Escala de Apoio Parental Activo na Doença (versão original de Wysocki & Gavin, 2004), numa amostra de 120 pais de filhos diabéticos. A Análise de Componentes Principais, que confirma a estrutura da escala original em duas dimensões, a consistência interna da escala e o coeficiente de Spearman-Brown demonstram as propriedades psicométricas desta versão. A existência de respostas dos dois membros do casal justificou a introdução da metodologia multinível, permitindo uma análise diádica que integra a não-independência dos dados relacionais. Os resultados demonstram que os pais de crianças diabéticas possuem uma autoeficácia parental significativamente superior aos pais de crianças sem doença, embora ao nível da auto-estima as diferenças sejam quase inexistentes. Auto-eficácia parental e autoestima associam-se determinantemente, funcionando a diabetes da criança como um agente intermediário dos processos subjectivos parentais. Enquanto a auto-eficácia parental se relaciona, sobretudo, com a avaliação do contributo parental na gestão da doença para o funcionamento familiar, a auto-estima associa-se ao envolvimento nas tarefas da diabetes, na medida em que este envolvimento se liga a uma diminuição da percepção negativa dos pais sobre si próprios. A investigação evidenciou também a preponderância de outras variáveis em análise, especificamente o nível educativo parental, o número de filhos e o tempo de diagnóstico da diabetes. Os resultados das díades, não totalmente consonantes com os individuais, confirmam a relevância da adopção de metodologias específicas no estudo de pessoas afectivamente ligadas