O culto da nação: a Exposição do Mundo Português e a formalização do discurso ideológico do Estado Novo

Durante as décadas de 30 e de 40, a legitimação e manutenção do poder inspirou a pretensão totalitária do Estado Novo que, “à semelhança de outros regimes fascistas ou fascizantes da Europa”, recorreu à propaganda como instrumento fundamental para executar um “projecto totalitário1 de reeducação dos «espíritos», de criação de um novo tipo de portuguesas e de portugueses”.2 António Ferro estava encarregue da chamada “política do espírito” que consistia em “levar a cultura, previamente filtrada pelo nacionalismo do Secretariado de Propaganda Nacional [SPN],3 ao povo”.4 Esta política, que abrange os diversos âmbitos da produção cultural – como o cinema,5 a literatura ou a arquitetura – desdobra-se “diversamente sobre o quotidiano das pessoas, na família, nas escolas, no trabalho ou nas «horas livres»”.6 Um dos seus objetivos fundamentais era o de restaurar um “sentido de pertença e orgulho”7 coletivos por recurso à promoção de uma identidade nacional ficcionada, de forte vinculação atávica.