RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE: DIVERSIDADE DE SABERES, DIVERSIDADE DE SUJEITOS

O presente trabalho é o relato de experiência de quatro profissionais (psicóloga, enfermeira, fisioterapeuta e farmacêutica) sobre a especialização em saúde mental na modalidade de residência multiprofissional. As residências multiprofissionais foram criadas a partir da Lei n 11.129 de 2005 e são orientadas pelos princípios e diretrizes do SUS1. A Residência Multiprofissional da UNEB, núcleo saúde mental, se caracteriza por estar alinhada aos ideais da Reforma Psiquiátrica2. Assim sendo, os campos de estágio-trabalho são os CAPS em suas diferentes modalidades e as áreas técnicas de saúde mental municipal e estadual. A atuação nos citados campos configurou-se como a primeira experiência na área da maioria das profissionais em questão, algumas sequer tiveram a disciplina na graduação e uma delas teve contato incipiente. A entrada no campo gerou uma série de inquietações nas profissionais: algumas perceberam a atuação nos CAPS como uma diluição do seu saber e não conseguiram, a priori, delinear a sua atuação nesse contexto; também emergiram alguns preconceitos sobre transtornos mentais, principalmente em relacionados aos usuários de drogas. Contudo, esses problemas iniciais foram superados e a equipe transformou-se em um grupo3, desenvolvendo vários projetos com caráter interdisciplinar e transdisciplinar4. Diante dessas questões preliminares, surge o seguinte problema: qual o impacto de uma residência multiprofissional em saúde mental na formação de um profissional para atuar na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)? Uma das reflexões que se pode suscitar é o fato de que por se configurar como multiprofissional, promovendo a formação de uma equipe de residentes de múltiplas formações, está em consonância com o próprio processo de trabalho do CAPS que se caracteriza como clínica ampliada5. Nessa lógica, as residentes puderam desenvolver interconsultas, oficinas construídas a partir dos saberes de cada uma, ações de educação em saúde visando a integralidade, além da articulação da rede a partir dos diversos olhares dessas profissionais. Além da importância da atuação multidisciplinar nos campos, é importante salientar que parte do componente teórico é desenvolvido junto com os outros núcleos do programa de residência. Dessa forma, é possível suscitar a ampliação das concepções de saúde. Outro aspecto que se deve considerar é perspectiva de passagem do residente por múltiplos campos da saúde mental (CAPS II, CAPS ad, CAPS ia e gestão), o que permite que tal profissional tenha uma visão expandida da RAPS, viabilizando o conhecimento das diversas formas de atuação clínica em cada um dos campos de assistência. Apesar do processo descrito ainda não ter sido concluído, já se vislumbra uma mudança na atuação dessas profissionais. Atualmente, essa atuação apresenta uma intersecção entre a clínica e a política, repercutindo na militância destas em relação às questões da saúde mental. Dirigindo o olhar para as turmas anteriores, constata-se que muitos dos egressos foram absorvidos pelo campo da saúde mental. Entretanto, vale questionar a desvalorização desses profissionais que são formados no SUS e para o SUS, já que em processos seletivos a titulação da residência tem o mesmo peso que as demais especializações nas provas de títul