PROTAGONISMO DOS USUÁRIOS DE UM CAPS II ATRAVÉS DE OFICINA DE FOTOGRAFIA

Os CAPS’s são fruto da Reforma Psiquiátrica brasileira. São serviços eminentemente ambulatoriais de atenção diária à portadores de transtornos psíquicos, que funcionam com equipe de múltiplos profissionais, em uma lógica territorial e de forma independente de qualquer estrutura hospitalar (BRASIL, 2004). Seus atendimentos se dão não só na forma individual, mas também em grupos, na forma de atendimentos às famílias, de ações comunitárias, de visitas domiciliares, de oficinas terapêuticas por exemplo. Através dos encontros e diálogos com os usuários do serviço, percebemos as potencialidades destes em diversas áreas, inclusive na fotografia, mas havia como impeditivo os estereótipos e preconceitos, que dificultava a inclusão dos usuários em locais públicos, onde seriam realizadas as fotografias. Um dos objetivos da oficina foi desconstruir esse olhar por parte da equipe e das demais pessoas. Doze usuários de ambos os sexos, devidamente cadastrados na instituição participaram da oficina. A referida oficina ocorreu durante o Estágio Básico I em Psicologia, nos meses de março a maio de 2013. Nos primeiros encontros, buscamos o estabelecimento de vínculos com os usuários, para pensarmos a construção de uma oficina. Deste modo, ao longo de três encontros foi solicitado que expressassem seus interesses, e muitos mencionaram fotografia. Cada encontro discutíamos uma parte da oficina, colocando sempre os participantes como protagonistas, pois em tudo pedíamos suas opiniões, afinal eram eles quem estavam realizando a oficina. Assim, a oficina foi realizada com visitas a diversos pontos da cidade, culminando numa exposição, onde numa roda de conversa pedimos que os participantes falassem da experiência. Os depoimentos foram diversos, uns revelaram que nunca tinham tido contato com a câmera fotográfica anteriormente, outros relataram já ter fotografado, mas todos confessaram ser positiva a experiência, a qual representou uma oportunidade de estar em contato com a loucura e poder percebê-la de outra forma, por outro ângulo, diferente do que costumamos pensar sobre as pessoas com sofrimento psíquico. Basaglia ressalta que ao considerar a loucura como doença, distúrbio da razão, incapacidade civil ou irresponsabilidade social e jurídica, a psiquiatria clássica criou para o louco um lugar de exclusão, um lugar zero de trocas sociais, cuja expressão mais radical é o manicômio. Para Amarante é preciso reinventar a clínica como construção de subjetividades, através de paradigmas centrados no cuidado, na tomada de responsabilidade e na cidadania. Merhy (2007), fala em um fazer compromissado com a produção de relações vivificadoras, que vêem no outro um sujeito fundamental, que pode marcá-lo profundamente, que está preparado para esse processo coletivo de mútua fabricação subjetiva. Tendo em vista esse pensamento, buscamos através da oficina construída com os usuários a visibilidade destes, na tentativa de desconstrução dos estereótipos que cercam pessoas portadoras de transtorno mental, na medida em que os participantes eram os protagonistas, pois pensamos no desenvolvimento de autonomias, uma vez que eram eles quem fotografavam, sem a nossa interferência, fotografavam o que quisessem e como preferissem