A PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS SOBRE AS PRÁTICAS DE ASSISTÊNCIA EM SAÚDE MENTAL EM SENTO SÉ – BA

Durante muitos anos o conceito de saúde esteve associado à noção de ausência de doença. A ampliação desse conceito se deu em decorrência do reconhecimento da insuficiência do modelo biológico, da tecnologia médica e do foco que privilegiava o risco individual para responder aos processos saúde-doença (FERNANDEZ, 2008; BACKES et al 2009). Diversas mudanças aconteceram no âmbito político e social do Brasil, como a redemocratização do país, a construção do Sistema Único de Saúde – SUS e a criação do Movimento dos Trabalhadores da Saúde Mental (MTSM) (TENÓRIO, 2002). Em 2001, com a aprovação da lei Federal nº 10.216, a Reforma Psiquiátrica concretiza seus princípios garantindo legalmente os direitos das pessoas com transtornos psíquicos e, principalmente, redireciona o modelo de assistência à saúde mental (AMARANTE, 1995; TENÓRIO, 2002). O CAPS se destaca como o serviço de referência primordial para efetivação desse novo modelo de assistência. Este estudo, realizado em 2011, objetivou compreender quais as práticas dos profissionais de saúde que envolvem a assistência ao usuário com transtorno mental no município de Sento Sé – BA, de modo a entender como tais profissionais concebem o cuidado em saúde a esse usuário. O método em questão foi embasado pelo olhar da pesquisa qualitativa. Os campos de coleta de dados foram: Unidade Básica de Saúde (UBS), Estratégia de Saúde da Família (ESF), Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Ambulatório, Hospital Geral e Secretaria Municipal de Saúde. A amostra da pesquisa foi composta por 21 profissionais de nível superior. Foi utilizado como instrumento de coleta de dados o questionário semi-estruturado composto por perguntas fechadas e abertas. Foi realizada a análise temática dos dados tendo como método, a técnica de Análise de Conteúdo, segundo Bardin (2004). Após a análise, os dados foram divididos em dois eixos temáticos: concepções sobre cuidado em saúde e as práticas profissionais. Os achados da pesquisa foram agrupados nos sub-eixos: O Cuidado em saúde a pessoa com transtorno mental; Desumanização no Trabalho; Prevenção e Promoção em saúde; Trabalho em equipe multidisciplinar; Práticas profissionais de cuidado em saúde. Quanto ao primeiro eixo temático, os participantes descrevem a necessidade de práticas diferenciadas para atender as pessoas com transtorno mental, destacam também o preconceito e a falta de preparo. No segundo eixo temático, as práticas de cuidado em saúde mental nos diversos dispositivos de saúde, foram identificadas como: práticas individuais, grupais e comunitárias. No entanto, percebe-se uma discrepância entre concepções e práticas no discurso dos participantes. Acredita-se que a dificuldade para a realização dessas práticas pode decorrer da falta de formação continuada em saúde mental, o que é indicativo da necessidade de investimento da gestão para com a equipe de profissionais da saúde do município. Por fim, é ressaltada a urgência da atuação intersetorial para construção de um trabalho em rede que facilite o cuidado à pessoa com transtorno mental, no sentido de que existam trocas entre os saberes, propiciando uma atuação profissional humanizada