O Teórico, o Virtual e o Experimental: Sobre o Estatuto da Teoria na Psicologia

Partindo do sentido etimológico de teoria (theorein) como «visão», o trabalho interroga as condições de «visão» na psicologia, concluindo que se apresentam inseparáveis da afirmação de um plano da virtualidade. Na sua primeira parte, o trabalho procede a uma avaliação crítica do modelo estatístico em uso na investigação psicológica; os modelos formais, sobretudo na sua vertente multivariada e estrutural, são igualmente apreciados de forma crítica; as insuficiências da noção corrente e praticada de risco e de acaso são argumentadas e ilustradas através de alguns exemplos, e a necessidade de uma concepção afirmada, não repartida, do acaso, é defendida, tomando corpo numa «confiança arriscada» (diferente da lógica fiduciária usual), ou «confiança na confiança». A segunda parte desenvolve as relações da teoria com a avaliação/decisão, em psicologia, através de duas teses: (1) o tempo como elemento natural da avaliação, e (2) os afectos como seu instrumento privilegiado: ambas as teses convergem na ideia de que a avaliação deve dispôr de uma potência inumerável, em lugar da potência numerável que recebe nas operacionalizações correntes. A anteceder a conclusão encontra-se um apêndice sobre as condições da medida em psicologia: a determinação de uma «vontade de medida» contida na noção de situação é apresentada como a sua condição geral, e a evolução no sentido duma «psicofísica subjectiva» como o seu instrumento essencial. Algumas dificuldades resultantes da sujeição da quantificação a este quadro de «medida» são apontadas, bem como a incapacidade de assegurar um estatuto cómodo à noção de função em psicologia