Habitando espaços : a experiência do espaço a partir da prática artística : da escultura à espacialidade

Tese de doutoramento, Belas-Artes (Escultura), Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes, 2012A produção de espaço, nesta investigação, é discutida a partir do campo escultórico e da prática curatorial. A arte participa na construção de um lugar habitado, atribuindo-lhe sentidos e representações ideológicas. Construir espaço envolve dar-lhe substância, abrir possibilidades entre as já existentes e representá-las. O processo de expressar e dar vida às possibilidades do mundo, atribuindo-lhes uma manifestação sensível através da arte, não é possível sem a intervenção do corpo que afunda e alarga no seu espaço interior e exterior, abrindo e produzindo espaço. As propriedades sensíveis do corpo, nomeadamente a qualidade de abertura e fechamento, a possibilidade de entrar e sair de um corpo/espaço, reflectem-se na representação e têm um correlato nas práticas artísticas em processos de alargamento e afundamento de campo. O alargamento de campo pode observar-se, sobretudo, num eixo horizontal, correspondente aos territórios onde a arte opera e em que se torna difícil distinguir a produção artística da vida. O afundamento de campo ocorre num eixo tendencialmente vertical, um locus intangível, onde se gera o enigma do acto criativo, que conserva um reduto intraduzível. Entre aqueles terrenos e modos de operar, surge um deslize, abrindo um espaço não-resolvido na representação – necessário à construção de posicionamentos político-ideológicos. Os diferentes modos da arte produzir espacialidade dão origem a novas linguagens e formas artísticas, diferentes possibilidades de representação e formas renovadas de habitar o mundo. A curadoria, nomeadamente através dos seus processos editoriais e expositivos, conserva, amplia e potencia aquele âmbito não-resolvido da espacialidade, aberto à construção do espectador. A curadoria e a vertente escultórica da arte instituem-se assim como formas de produção de conhecimento, com recurso não apenas ao intelecto mas todo o ser somático, pondo-o em movimento e interrogação.The production of space in this discussion is viewed from the perspective of both sculptural and curatorial knowledge. Art has a part in the construction of an inhabited place, giving it meaning and ideological representation. To construct space means figuring out new possibilities (of being and becoming) within those already existent and implies representing them through an embodiment. The process of expressing and giving life to the world´s possibilities is not possible without the intervention of the body which deepens in its interior space and expands throughout the exterior, opening more space. The sensitive properties of the body, in particular, the erotic quality of its flesh, that is the potential to open and close, allowing the entry and exit in a body/space are reflected in representation and artistic practices as forms of expansion and deepening of the field. The expansion of the field can be witnessed particularly on a horizontal axis, according to the territories where art operates and in which it, becomes difficult to distinguish between art and life. The deepening of the field occurs on a vertical axis, in an intangible locus, preserving the enigmatic and untranslatable core of the creative process. Between those two fields and modes of operation there is a slide, opening up a non-solved space inside the representation – which becomes necessary to the political and ideological construction of human positioning. The different forms of art producing space give rise to new artistic types and languages, showing different forms of representation and of inhabiting the world. Curatorial practices, involving editing and displaying processes: preserving, stretching and widening within the non-solved domain of representation, giving rise to public construction. As though, both the curatorship and the domain of sculpture have found themselves to be modes of knowledge, stimulating not only the intellect but also the entire somatic body